À procura da identidade
05.07.08
por Daniel Oliveira
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Do outro lado
(Auf der anderen seite, Alemanha/Turquia/Itália, 2007)
Dir.: Fatih Akin
Elenco: Baki Davrak, Nurgül Yesilçay, Tuncel Kurtiz, Hanna Schygulla, Patrycia Ziolkowska
Princípio Ativo: identidade
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Nós somos formatados por, basicamente, três coisas: pelas pessoas que escolhemos amar; as coisas em que decidimos acreditar; e os lugares que elegemos para viver.
“Do outro lado†e seu diretor Fatih Akin, laureados em Cannes 2007 com o prêmio de melhor roteiro. sabem que cada uma dessas três categorias tem seus lÃderes. Os pais, na primeira; a religião (ou o Deus), na segunda; e a Terra Natal, na terceira. E é essa a trinca de elementos que tece o filme do cineasta turco-alemão. A idéia de ser modelado por algo externo é tão fundamental que os enquadramentos sempre mostram os personagens emoldurados – seja por uma estante de livros, pela arquitetura de Istambul ou pela pobreza local.
Nejat Aksu é um professor universitário em Berlim que vai para a Turquia atrás de uma garota, devido a um crime cometido por seu pai. A garota é Ayten Oztürk, militante polÃtica que, perseguida pela polÃcia, foge para Berlim, onde se apaixona por Charlotte.
Nejat, intelectual e reservado, sente-se culpado pelo machismo e pelas tradições do pai turco. Ayten quer consertar um mundo que ignora a pobreza de uma Turquia prestes a entrar na União Européia. Charlotte quer salvar Ayten da prisão – e sua mãe, Susanne, quer tirá-la desse imbróglio todo.
Somente quando eles atingem o ‘outro lado’ – saindo de seus corpos para alcançar o objeto de sua busca – é que eles vêem a si mesmos. E percebem que precisam parar de tentar corrigir os erros dos outros e começar a enxergar os seus próprios. A busca pelo outro acaba se revelando uma relutante busca pela própria identidade.
Ayten precisa de uma tragédia pessoal para ver que não pode lutar contra a intransigência do mundo, se ela mesma é intransigente. Susanne, na busca pela filha, reencontra uma mulher perdida há muito tempo: ela mesma. E Nejat, durante uma bela conversa sobre a religião de seu pai, ao contar a Susanne a história do sacrifÃcio do filho de Abraão, vê que é possÃvel saltar da moldura. Que somos formatados, mas nem tanto.
Assim como em “Contra a paredeâ€, seu filme anterior, Fatih Akin emaranha seus personagens nesse clichê real que é a ciranda da vida, para mostrar uma Europa em que o trânsito tornou difÃcil para as pessoas decifrar sua identidade. E o longa funciona porque esse lado macro não é priorizado. Ele está lá para quem quiser ver, mas o que interessa são os personagens.
É no estar “Do outro ladoâ€, ao realizar esse trânsito de um paÃs para outro (ou de um ponto para outro na câmera de Fatih Akin), que eles fazem sua grande descoberta: só é possÃvel entender esse ‘outro’ quando se sabe quem você realmente é.
Mais pÃlulas:
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Ayten, Charlotte e a ânsia pelo outro lado.
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