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Chega de falsas promessas

13.08.08

por Rodrigo Ortega

Moptop - Como se comportar

(Universal - 2008)

Top 3: "Bom par", "Bonanza", "Desapego".

Princípio Ativo:
Conquista

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"As vezes eu devo parecer / Um tanto malcuidado, eu sei / É que eu me estrago / Me atrapalho / Sem você".

"Malcuidado", a sétima das doze faixas do disco novo dos cariocas do Moptop, é a típica canção do "malandro arrependido" - a velha história do sujeito que se apaixona e promete mudar, "ser homem direito". Se a banda fosse um mocinho e o grande público brasileiro uma mocinha, essa música tocaria na cena do baile, em que ele esconde suas tatuagens embaixo do terno, arruma o cabelo com gel e a pede em namoro.

"Ah, se alguém pudesse acreditar... / Eu me ajeito / Me endireito / Por você".

A promessa de fidelidade do Moptop inclui deixar o som de baixa fidelidade pra trás e ter uma produção mais limpa. Na prática, isso significa que as guitarras não se parecem mais com ringtones e que o vocalista Gabriel usa menos aquela voz com a garganta arranhada (lembra do "AAAlgo que me faça acreditar", de "O rock acabou"?).

As reações naturais das mocinhas que já conheciam a banda são: 1 - tapa na cara; 2 - bocejos, pelos seguintes motivos:

1 - PAF! Você acha que vai me conquistar sendo o brinquedinho eletrônico do presidente da Universal, seu canalha? Vai vender vídeo pro celular de outra!

2 - "Uáááá... Sério que a primeira música é essa "Aonde quer chegar?". Olha, nossa relação está muito sem sal, antes era divertido e agora e só... burocrático. Vamos conversar?

Vamos, mas eu ainda não terminei.

"Passei o dia louco pra te ver / Queria tanto te explicar / Eu adoeço / Eu amoleço / Sem você (hehe)"

A diferença toda está nesse hehe, a piscadinha marota do vocalista Gabriel (se esforçando para ser expressivo). Você acredita em arrependimento de malandro? O disco começa a ficar legal com a letra de "Contramão", que volta a colocar vilões e pecados em cena. Mas não adianta falar (afinal o lema deles é "yeah rock" né), então vem o arranjo foda de "Desapego": o riff meio torto, o baixo dançante e as palminhas.

Isso não significa que esse CD não seja bem diferente da estréia (apesar de recaídas, tipo "2046"). Eles investem muito mais na melodia do que no ritmo ("Desapego" é exceção). Por isso a faixa em que o disco acerta no alvo é "Bom par", simplesmente porque a melodia é boa e reina absoluta sobre palhetadas abafadas de guitarra (de novo: abafadas), que lembram The Police.

Ao lado dela no grupo das melhores faixas está "Bonanza", que encerra o disco. A letra, em que o narrador admite que não sabe onde quer chegar, pensa "em quando era um garoto" e pede por redenção, amolece o coração de qualquer mulher de malandro. A bateria grave e forte, o baixo distorcido e as frases de guitarra melódicas e épicas como velhos rocks de arena significam uma expansão para o Moptop muito maior do que qualquer ação inovadora de marketing em dispositivos móveis para o público jovem.

"Ok, Gabriel, nem TÃO expressivo assim"

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