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Doenças de família

03.10.08

por Daniel Oliveira

Um conto de natal

(Un conte de Noël, França, 2008)

Dir.: Arnaud Desplechin
Elenco: Catherine Deneuve, Mathieu Amalric, Jean-Paul Roussillon, Anne Consigny, Melvil Poupaud, Emmanuelle Devos, Françoise Bertin

Princípio Ativo:
a tradicional família francesa

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“A sete palmos†era uma série foda. Mas havia algo naquela família - uma certa imaturidade, a incapacidade de superar a repressão e encarar seus problemas de frente – que nunca melhorava e, eventualmente, tornou angustiante e exaustivo demais assistí-la.

Imagine agora se os Fisher fossem franceses, com suas idiossincrasias e o ar blasé. Você terá uma boa idéia do que acontece em “Um conto de natalâ€. Nele, Junon (Deneuve), matriarca de um clã altamente problemático, descobre que tem leucemia às vésperas do natal, obrigando a reunião familiar para as festas de fim de ano.

Só que:

1- A filha mais velha, Elizabeth (Consigny), impediu que todos na família conversem com o do meio, Henri (Amalric), após pagar uma série de dívidas dele;
2- Por sua vez, Henri acha a irmã recalcada e insinua que ela seja culpada pelos problemas mentais do filho adolescente, Paul;
3- O rebento mais novo, Ivan (Poupaud), passa o tempo bebendo e se drogando, enquanto seus dois filhos pequenos presenciam toda a lavação de roupa suja.

Adicione aí a morte de um quarto filho de Junon, nunca superada pelo clã, e você tem aquele ar sufocante de “natal em família†elevado à décima potência. O diretor Arnaud Desplechin cimenta a história nos longos e densos diálogos típicos do cinema francês. E os alia a recursos do teatro, como monólogos dirigidos à câmera, e à estrutura dos contos de Charles Dickens – a divisão em ‘capítulos’, iniciados por aquela máscara circular no rosto de um ator que se expande até revelar todo o quadro.

“Um conto de natal†se apóia na excelência de seu elenco, que realmente convence como uma família disfuncional, disparando frases ácidas e tiradas sarcásticas para disfarçar sua incapacidade de se relacionar. A estrela que ilumina essa constelação é Catherine Deneuve, como uma Junon que não pára de fumar mesmo doente, enquanto a família faz os cálculos matemáticos de suas chances de vida em um quadro escolar. E que, quando a namorada de Henri diz que o filho nunca fala da mãe, simplesmente responde “eu sou aquela que está com câncerâ€.

É esse sarcasmo francês que afasta o melodrama. E quase torna o longa excepcional, não fosse por um triângulo amoroso totalmente desnecessário no meio da história. Ele alonga o filme por intermináveis 150 minutos, quando poderia ter se encerrado com menos de 120. É um excesso de tramas que Desplechin já havia cometido em “Reis e rainha†e que impede “Um conto de natal†de ser uma combinação sublime de comédia e drama, como “O escafandro e a borboletaâ€. E que o torna ainda mais próximo do meu amor e ódio por “A sete palmosâ€.

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Os enfeites são bonitos. A família, nem tanto.

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