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Sessão de Tortura

22.01.09

por Taís Oliveira

Austrália

(Austrália/EUA, 2008)

Dir: Baz Luhrmann
Elenco: Nicole Kidman, Hugh Jackman, Brandon Walters, David Wenham, Bryan Brown, David Ngoombujarra, Angus Pilakui

Princípio Ativo:
clichês

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Privação de sentidos, afogamento, agulha debaixo da unha, refrigerante estourado no nariz, um filme ruim de três horas. São várias as maneiras de torturar alguém, e o diretor Baz Luhrmann escolheu a mais absurdamente cara delas.

Nicole Kidman é Lady Sarah Ashley, britânica que vai à Austrália por desconfiar que seu marido a trai com aborígenes em sua fazenda. Lá, ela encontra o marido morto, conhece o rude Capataz (Hugh Jackman, num personagem sem nome), a quem odeia no começo e ama no final, e acaba semi-adotando o simpático mestiço Nullah (Walters). Nicole já disse que não atuou bem no filme. Respeitarei sua opinião.

Ashley é uma caricatura, que começa como uma aristocrata fresca, protagonista de piadinhas bobas e forçadas, acompanhada algumas vezes por Jackman. Ele, por sua vez, é outra caricatura - de homem durão, sujo e incrivelmente atraente – do tipo que joga água no corpo seminu e balança o cabelo. Quando eles descobrem as maldades do ex-empregado Neil Fletcher (Wenham, numa atuação digna de vilão da Malhação), o filme muda e o tom cômico dá lugar a quase todos os clichês cinematográficos. Beijo na chuva, na contraluz, interrompido pela criança, separações de mãe e filho, confissões à beira da morte, está tudo lá, sob um céu colorido artificialmente. Nem mesmo as paisagens australianas saem intactas.

“Austrália†é um teste à capacidade humana de falar mal de filmes. A certo ponto, tudo parece uma grande piada, ou experiência kitsch. Alguns momentos são tão estranhos e bregas, que seriam engraçados se não fossem levados a sério, com destaque para o feiticeiro aborígene que faz um P com as pernas, a dança mágica bizarra de Nullah e as caras de Kidman.

Mas, definitivamente, o mais impressionante do longa-metragem (bota longa nisso) é que ele realmente tenta ser um filme sério e épico. E se você for ao IMDb buscar melhores comentários, vai encontrar pessoas que se encontraram próximas do suicídio durante a sessão.

A trilha sonora, que sozinha já daria vontade de morrer, vem pré-etiquetada: “drama/morteâ€; “romance/beijo†e “drama/reencontroâ€. O figurino dos homens parece roubado do guarda-roupa do Indiana Jones e o da personagem de Kidman é a única coisa minimamente interessante do filme (se você é mulher).

Não podemos maldizer tanto o longa, afinal, por alguns minutos Baz Luhrmann nos dá a esperança de que todos os personagens principais estão mortos. Mas é só mais uma tática de tortura. E quando você pensa que o filme vai acabar (até fade out tem), ele continua por mais longos minutos, finge que vai acabar novamente, e continua...

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Pobre Walters: Eu sou um bom menino. Até atuo bem. Por que me colocaram nesse filme?

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