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Beatniks saltimbancos

25.01.09

por Daniel Oliveira

Se nada mais der certo

(Brasil, 2008)

Dir.: José Eduardo Belmonte
Elenco: Cauã Reymond, Caroline Abras, João Miguel, Luiza Mariani, Milhem Cortas, Murilo Grossi, Eucir de Souza, Leandra Leal, Tainá Müller

Princípio Ativo:
neobeatniks

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Léo (Reymond) é um jornalista pobretão que vive de freelas fracassados (qualquer semelhança com a realidade não é mera generalização). Ele tem uma relação mal resolvida com a junkie Ângela (Mariani), cujo filho ele ajuda a criar. Ao conhecer a fornecedora de Ângela, Marcin (Abras), ele começa a dar pequenos golpes e, junto com o amigo taxista dela, Wilson (Miguel), acaba formando um inusitado trio de “Robin Hood’sâ€.

Como em seus filmes anteriores (A Concepção, Subterrâneos etc), o cineasta brasiliense José Eduardo Belmonte dirige sua câmera em “Se nada mais der certo†para personagens inconformados, às margens da sociedade. Léo, Ângela, Marcin e Wilson existem constantemente no limite – da falta de dinheiro, de luz, de gás, de perspectivas – sofrendo tão intensamente cada ‘hoje’ que o ‘amanhã’ quase deixa de existir. Os quatro são uma espécie de geração neo-beatnik, como se Belmonte atualizasse Jack Kerouac, Allen Ginsberg e Bukowski para a dramédia social contemporânea brasileira.

E “Se nada mais der certo†com certeza não daria certo, com o perdão do trocadilho, se Belmonte não contasse com o ótimo elenco que carrega esses protagonistas. Cauã Reymond entrega sua melhor atuação até hoje como Léo, dividido entre seu cinismo jornalístico e um desejo irrefreável de algo melhor; e Caroline Abras (melhor atriz no festival do Rio) constrói um(a) Marcin ambíguo(a), simpático(a), que faz de sua indefinição sexual uma casca de proteção contra o mundo. João Miguel é o grande incômodo do filme, bom, mas parecendo repetir a mesma atuação de seus trabalhos anteriores. E preste atenção nas pontas de luxo de Milhem Cortaz, Leandra Leal e Tainá Müller.

Belmonte edita em cortes rápidos e movimentando bastante a câmera, mas sem jamais impedir que apreciemos as boas performances. Não há dúvida, porém, de que a alma do filme é ele, com sua influência do cinema marginal (a hilária cena do “Garçom! Um 12 anos, por favor!†é puro Andrea Tonacci) e a preferência pelo uso de música pop, de Bob Dylan a’Os saltimbancosâ€.

Ele escorrega em alguns clichês desnecessários, como a luz piscando e os giros de câmera na boate. Já as locuções em off vão da mera filosofia de buteco a passagens realmente interessantes, mas não chegam a atrapalhar. “Se nada mais der certo†é um longa sobre pobreza e marginalidade no Brasil, que consegue ser original, divertido e fugir das agendas políticas. Belmonte entendeu o recado da geração beatnik, de que não é necessário ser moralista ou discursivo para ser contundente.

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Miguel, Abras e Reymond: eles se amam demais (o motivo é a vodka ali embaixo).

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