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Oh, the guilt

06.02.09

por Daniel Oliveira

O leitor

(The reader, EUA/Alemanha, 2008)

Dir.: Stephen Daldry
Elenco: Kate Winslet, David Kross, Ralph Fiennes, Bruno Ganz, Lena Olin, Alexandra Maria Lara, Hannah Herzsprung, Karoline Herfurth

Princípio Ativo:
culpa

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Michael é um adolescente de 15 anos na Alemanha de 1958, que tem um tórrido e apaixonado caso de verão com uma mulher mais velha, Hanna. Ele lê para ela, eles fazem sexo em seguida. Anos depois, na faculdade de Direito, ele a reencontra sendo julgada como ex-guarda dos campos de concentração. A culpa surgida ali, e carregada por Michael durante toda sua vida, é agravada quando ele se dá conta de um segredo que Hanna esconde de todos - e que tem o poder de interferir seriamente na sua pena.

“O leitor†é mais um capítulo na onda de filmes revisionistas que dirigem suas câmeras para o nazismo. Mas o longa do diretor Stephen Daldry e do roteirista David Hare (ambos de “As horasâ€) não é sobre os possíveis sentimentos de culpa ou arrependimento dos membros da SS, e sim daqueles que os cercaram. Como conviver com a descoberta de que o pai ou esposa, que você reconhece como dedicado e amável, é considerado pelo resto da humanidade um dos maiores monstros da História?

O x dessa equação nada simples é Hanna, em nenhum momento reduzida a “iludida inocente†nem a “monstro sádico sem remorsoâ€. Um enigma que o roteiro baseado no livro de Bernhard Schlink não ousa desvendar totalmente, cabe à ótima composição de Kate Winslet (em seu papel mais difícil até hoje) completar as lacunas da personagem. É a atriz que a humaniza, desde o jeito agressivo de andar ao olhar desesperado no julgamento – com menos medo da condenação do que das pessoas descobrirem sua vergonha.

O semi-estreante David Kross, por sua vez, dá empatia à inocência hormonizada do Michael adolescente que, corrompida pelos crimes de Hanna, ganha os já conhecidos traços introspectivos e atormentados de Ralph Fiennes no personagem adulto. O trio de protagonistas é o grande destaque do filme, já que todos os artifícios de direção dos trabalhos anteriores de Daldry parecem anêmicos, sufocados pela produção de época tão impecável quanto fria. O casamento de edição e trilha musical costurando o vai-e-vem temporal é o mais claro deles: benfeito, mas não se compara à quase perfeição da parceria de Peter Boyle e Philip Glass em “As horasâ€.

“O leitor†sugere que, se ainda não sabemos se há redenção possível para os crimes (é uma resposta que não temos individualmente, quanto mais para coletivizarmos em um filme), talvez haja para as pessoas que os praticaram. É a força do olhar de Winslet que nos faz engolir o indigesto fato de que “os mortos estão mortos†e só resta agora o polêmico e iluminador abrigo da ficção para nos ajudar a, se não perdoar, entender esses personagens. (E o Oscar estará sempre aí para abraçar quantas tentativas forem feitas.)

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