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Energia alternativa

10.05.09

por Rodrigo Ortega

Neil Young - Fork in the road

(2009)

Top 3: "Fork on the road", "Light a Candle", "When worlds collide"

Princípio Ativo:
Pé na estrada

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Aos 63 anos, o canadense Neil Young poderia se acomodar com conforto em seu lugar garantido entre os heróis do rock. Seus 42 anos de carreira e 31 discos de estúdio lançados, desde os clássicos grupos da era hippie Buffalo Springfield e Crosby, Stils, Nash & Young, passando por trabalhos solo que renderam hinos como "Hey hey, my my (into the black)" até a consagração definitiva pela geração grunge nos anos 90, garantem respeito vitalício ao músico. No entanto, em Fork In The Road, seu novo disco, Neil Young mostra mais inquietude e ousadia do que a maioria das novas bandas.

O álbum é conceitual e todas as letras falam sobre um carro movido a energias alternativas que Neil Young ajudou a construir, em um projeto chamado LinkVolt. Não é todo músico que tem coragem de dar a cara à tapa e estar sujeito a dois julgamentos: ou o cantor tem os pés mais no chão do que todo mundo ou virou um lunático de vez.

São dez faixas inéditas produzidas pelo antigo parceiro Niko Bolas, com guitarras cruas e sem muita pompa. O tema de carros e estradas, à primeira vista excêntrico, rende infinitas metáforas, que dão o clima de baladas e principalmente rocks com acento country que são a marca de Neil Young.

Algumas faixas parecem jingles de campanha automobilística (o que não deixam de ser), como "Fuel Line", em que Neil explica: "O enorme poder da eletricidade / é guardado em uma bateria gigante / mas ela não usa muito / isso é esperteza para um carro".

A melhor parte do disco, porém, é quando o discurso se torna mais universal. A faixa de abertura, "When worlds collide", por exemplo, é um hino dos novos EUA da era Obama, com um riff poderoso e versos otimistas sobre a diferença de culturas na América. A balada "Light a Candle" é uma lição de economia de energia: com voz, violão e uma melodia simples, Neil Young se aproxima do nível de seus clássicos trabalhos dos anos 70.

Mas é bem claro (e lamentável, especialmente para os não afeitos ao seu ativismo) que o cantor deixa, em vários momentos, os aspectos musicais em segundo plano em detrimento do discurso. A afinação da voz, que nunca foi seu forte, vai de deslizes charmosos até um desleixo irritante, que deixa a dúvida se não seria melhor parar no discurso político em vez de colocar uma guitarra no fundo e chamar de música.

O desleixo é uma opção artística explícita do músico. "Apenas cantar uma canção não vai mudar o mundo", ele diz em "Just singing a song". Tirar a másica do primeiro plano e passar a usá-la mais como instrumento secundário do que um fim em si, pode parecer triste. Mas uma ironia se sobressai: a faixa é ótima, uma das melhores do disco, com uma melodia do tipo que a geração mais nova se mataria para fazer. Mesmo que o criador duvide do poder de sua obra, ele ainda existe.

Neil Young - Light A Candle

Velho maluco, músico genial

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