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Cinema com espinhas na cara

16.12.04

por Daniel Oliveira

Meu tio matou um cara

(Brasil, 2004)

Direção: Jorge Furtado
Elenco: Darlan Cunha, Lázaro Ramos, Sofia Reis, Aílton Graça, Dira Paes, Renan Gioelli, Deborah Secco

Princípio Ativo:
Adolescência pop e inteligente

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Tente se lembrar do último filme nacional bom voltado para o público adolescente. “Cazuza†era mais voltado para quem viveu a década de 80. Já “O castelo Rá-tim-bum†era infantil demais. Existe um vácuo de boas produções brazucas para a faixa etária, que fica sujeita à tortura ad infinitum de agüentar Charlie Brown Jr. ou “Malhaçãoâ€.

É exatamente o buraco que “Meu tio matou um caraâ€, terceiro longa de Jorge Furtado, preenche. O diretor gaúcho tem uma habilidade em comunicar suas impressões e comentários pop na linguagem simples dessa galerinha: cheio de “não seiâ€, “e aí?â€, “sei lá†- frases curtas e bem editadas, que tornam quase impossível não reconhecer sua mão em um texto, mesmo quando ele não é o diretor.

Em “Meu tio matou um caraâ€, o mote do título serve para explorar o universo de três adolescentes. Duca é sobrinho de Éder, um tio atrapalhado que chega em sua casa afirmando ter matado um cara. Seus dois melhores amigos são Isa, por quem ele é secretamente apaixonado, e Kid, por quem Isa é apaixonada. A trama do assassinato é uma Agatha Christie rasa - mera desculpa para mostrar como tudo nessa fase é cheio de aventura, emoção e intensidade.

Assim como em “O homem que copiavaâ€, Furtado cria um narrador (Duca) perspicaz e tímido, com quem o público facilmente simpatiza. O personagem de Darlan se torna, de certa forma, o espectador dentro do filme: sem grande poder de interferência, mas com uma capacidade de interpretação acentuada, que é o que constrói o longa. Sem a sensibilidade de Furtado ao representar as relações entre os três adolescentes - e sem a convincente interpretação de Darlan Cunha – o filme não existiria.

Quando Soraia (Deborah Secco), a femme quase fatale por quem Éder cometeu o crime, afirma que as fotos que implicam seu adultério não dizem nada, ela está certa. As fotos em si não mostram nada, é a leitura de Duca, Isa ou o tio que faz a diferença. É essa sacada meio metalingüística, junto com muitas referências pop, que tornam os longas de Furtado tão deliciosos. Ele sabe como pontuar dicas para o espectador atento, sem estragar a diversão de quem não está preocupado com isso. Se às vezes, a trilha deixa clara a presença do pop-farofeiro do Caetano-Veloso-anos-90, o filme ainda passa longe de ser ruim. Ele envolve e diverte o espectador, misturando Malhação e filme do Scooby Doo – se eles fossem bons. Mas mesmo quem não se importa com isso, certificado Jorge Furtado de garantia, vai se divertir do mesmo jeito.

"Nããão, não fui que explodi aquela casa no outro filme!â€

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