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“As coisas não são perfeitas, mas estão melhoresâ€

por Rodrigo Ortega

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Rock pauleira, conciso e eficiente. Assim se definem os gaúchos da Walverdes, banda que existe desde 1993 e ganhou popularidade na cena independente nacional com o álbum Anticontrole, lançado em 2002 pela gravadora goiana Monstro Discos. Eles preparam agora o álbum Playback, que deve ser lançado neste início de ano.

Gustavo "Mini" Bittencourt (voz e guitarra), Marcos Rübenich (bateria) e Patrick Magalhães (baixo e voz) já haviam lançado várias demos em cassete, um CD independente homônimo em 1996 e o álbum 90°, também pela Monstro, em 2000. O velho esquema de divulgação pela Internet e em festivais pelo Brasil é seguido à risca pela Walverdes.

Uma versão demo de “Saturnoâ€, faixa do novo disco, já está disponível no site da Trama Virtual (www.tramavirtual.com.br/walverdes). Na verdade, as canções de Playback já são conhecidas pelos freqüentadores de shows dos Walverdes, que são grandes amigos dos palcos.

“Fazemos discos só para fazer shows e não o contrárioâ€, disse Mini na conversa por e-mail que teve com o Pílula Pop, contando mais sobre Playback e outras histórias de shows, independência e rock gaúcho.


Mini: guitarrista do Walverdes

Pílula Pop: Disco novo: como está e quando será lançado?

Walverdes: O disco se chama Playback e está em fase de mixagem. Pretendemos lançar entre março e abril, mas ainda não podemos definir datas até o disco estar na fábrica.

Pílula Pop: E como pretendem divulgá-lo?

Walverdes: Por termos o disco na mão no início do ano, vamos poder nos programar melhor pra fazer um ano inteiro de divulgação desse disco especificamente, fazendo shows em todas cidades por onde já passamos, tocando em festivais, indo a rádios, contatando a imprensa dos lugares. Em 2005, provavelmente vamos dar continuidade, voltando nas cidades que foram legais e tentando marcar novas cidades e festivais onde ainda não fomos. A divulgação da Internet e da imprensa é fundamental, mas nossa melhor propaganda e a melhor maneira das pessoas conhecerem a banda ainda é o show. Na verdade fazemos discos só pra fazer shows e não o contrário.

Pílula Pop: E o esquema com a Monstro?

Walverdes: Ele surgiu quando estávamos pra lançar o 90°. Estávamos fazendo por nós mesmos e a Monstro entrou em contato oferecendo a parceria. A parceria continua para o Playback.

Pílula Pop: Vocês acham que o álbum Anticontrole foi uma ruptura na carreira da banda, principalmente em termos de reconhecimento?

Walverdes: Eu não diria que foi bem uma ruptura, mas um degrau importante de uma escalada que vínhamos fazendo em termos de som e de qualidade de gravação. No Anticontrole conseguimos chegar num patamar decente de produção e de composição e todo mundo percebeu isso. Não foi algo esque-matizado. Quando vimos, tínhamos o Anticontrole na mão. Ele nem é mais nosso preferido agora que temos o Playback, mas foi um disco muito importante pra nós, nos abriu portas.

Pílula Pop: A imagem que se tem do Rio Grande do Sul é um mercado à parte do Brasil, como um universo paralelo no rock nacional. Quais são, para vocês, as diferenças entre tocar em casa e fora?

Walverdes: O Rio Grande do Sul é um estado peculiar não apenas no rock. Os hábitos de consumo e de vida são diferentes, há toda uma história por trás. Com o rock não foi diferente. Quem cresceu aqui nos anos 80 ouviu muito, mas muito mesmo, rock local. Isso sedimentou um mainstream regional que se espa-lha pelo estado a partir de grandes redes de rádio FM. Então temos grandes bandas aqui, que são muito famosas, mas que a partir de Santa Catarina ninguém conhece. Em Porto Alegre nós temos um bom nome, mas isso não significa shows lotados. Nosso público é extremamente irregular nos shows, não sei dizer o que acontece. Acho que as pessoas preferem dizer que gostam da gente mais do que propriamente ouvir a gente. No interior, somos praticamente desconhecidos. Sem entrar nas grandes rádios é bem difícil entrar no mercado do interior do RS.

Pílula Pop: Vocês vêem uma melhora na estrutura de shows de bandas independentes desde quando começaram, em 1993, até hoje?

Walverdes: Com toda a certeza. Tem quatro coisas completamente diferentes. Primeiro não havia internet e isso mudou tudo, desde a distribuição da música (cassete X mp3) até os contatos entre as pessoas pra marcar os shows, organizar e divulgar festivais, etc. Segundo, havia muito menos lugares para tocar e hoje novas cidades despontaram como pólos independentes seja com festivais ou seja com bandas, como Goiânia. Terceiro, as casas estão lentamente olhando para os artistas independentes de maneira mais profissional, seja com estrutura decente, seja com respeito. E quarto, o mais importante: as bandas vêm assumindo uma postura mais profissional, o que ajuda a profissionalizar toda a cadeia. As coisas não são perfeitas, mas estão melhores.

Pílula Pop: Grunge, stoner, novo rock garageiro. O que vocês acham da identificação que sempre houve ao longo da carreira de vocês com essas ondas contemporâneas do rock?

Walverdes: O fato de nos identificarem como as ondas do momento é por termos uma conexão muito forte com o rock dos anos 60, 70 e o punk. Isso é a base fundamental do rock e é a base de qualquer moda passageira. Mas nós nunca nos encaixamos em nenhuma das definições. Elas passam e a gente vai ficando.

Pílula Pop: Do it yourself é um clichê bem aplicável aos Walverdes. Por quê vocês trabalham assim e qual a diferença que enxergam entre essa postura e outras mais comodistas? Quais as vantagens e desvantagens de serem inde-pendentes?

Walverdes: Nós trabalhamos assim porque é a única maneira da coisa ir pra frente. A diferença entre comodismo e ação é a mesma entre a frustração e a reali-zação. Mas pra isso é preciso muita paciência, saber que as coisas não vão dar certo na maior parte das vezes. Acho que esse é o nosso esquema. Quando as coisas não dão muito certo, nós procuramos não nos abalar demais. E no underground é freqüente as coisas darem errado. A vantagem de ser independente é não ter ninguém controlando seu trabalho e seu dinheiro. A desvantagem é ter pouco dinheiro para fazer maiores investimentos.

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