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O segundo movimento

por Rodrigo Ortega

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The Sense of Movement é o nome do álbum que marca o aguardado retorno do Valv, depois da surpreendente repercussão do EP de estréia, Amonite (midsummer madness, 2002). Em pouco tempo de estrada, Luciano Cota (guitarra) e Alexandre Augusto (bateria), Daniel Maia (baixo) e Alessandro Travassos (vocal) ganharam notoriedade e participaram de festivais importantes, como Bananada 2002 (Goiânia), South by Southwest (Austin-EUA), Upload 2002 (São Paulo), Curitiba Pop Festival e, já na divulgação do disco novo, o Indie Rock All Stars 2004 (BH).

A faixa título, com participação de Fernanda Takai, já tem clipe pronto, feito por André Paoliello, mesmo diretor do vídeo de “Frequencyâ€, do bem sucedido álbum anterior. Outra música do disco novo, “Middle Englishâ€, está disponível para download no site dos caras (www.valv.dk).

Apesar da experiência relativamente nova com o Valv, Daniel Maia e Luciano Cota são antigos batalhadores da cena independente de Belo Horizonte, em bandas como Laranja Serra D’água e Vellocet. Eles falam com o Pílula Pop sobre The Sense of Movement, shows memoráveis, a tal cena independente e os planos da banda para enfrentar o famoso e inevitável teste do segundo disco.


A capa de Sense of Movement

Pílula Pop: Então, como está o disco novo?

Valv: Luciano - O álbum tem 12 músicas, pouco mais de 60 minutos. Foi diferente de fazer, porque teve participação de amigos nossos. Algumas músicas foram idéia de amigos, nem todas as composições são cem por cento do Valv e têm algumas têm participações na gravação. Por exemplo, o Pedro, do Surfmotherfuckers, e o pessoal do Digitaria, que compuseram conosco.

Daniel - E tem a Fernanda Takai, do Patu Fu. Ela canta na faixa título do disco.

Pílula Pop: Quais são as diferenças entre o Sense of Movement e o Amonite?

Valv: Daniel - Para começar, investimos muito mais na produção do disco, trabalhamos mais, levamos mais tempo. Ele está mais bem acabado, mais bem produzido.

Luciano - A gente usou elementos que no primeiro disco não tivemos como usar. Por falta de tempo, de conhecimento. Nessa produção agora tivemos mais tempo, mais paciência, aprendemos a usar alguns recursos.

Pílula Pop: Quanto tempo vocês gastaram para gravar?

Valv: Luciano - Entre seis e sete meses. Isso conciliando os horários livres de cada um (todos os integrantes têm outros trabalhos além da banda). É bem difícil conciliar e conseguir andar rápido, então a preferimos fazer com paciência, gastar nosso tempo e fazer bem feito.

Pílula Pop: E a divulgação?

Valv: Daniel - O primeiro clipe, “The Sense of Movementâ€, já está pronto. A gente pretende entrar numa turnê, fazer o máximo de shows possíveis para divulgar o disco, porque o esquema de banda independente é tocar, divulgação é basicamente show.

Pílula Pop: Numa retrospectiva desses três anos de Valv, quais foram os melhores shows que vocês fizeram?

Valv: Luciano - Na minha opinião, o melhor foi abrindo para o Mogwai, no Rio. Foi fenomenal, o show foi perfeito, a gente estava super entrosado. No Upload, em São Paulo, também, foi fantástico. E o Curitiba Pop Festival. Agora, tem a recepção do público lá em Goiânia... Os shows que a gente faz no Martim Cererê são fora do normal.

Daniel - Goiânia é uma puta cidade roqueira, todo mundo recebe bem as bandas de fora.

Pílula Pop: Qual a opinião de vocês sobre a cena independente de Belo Horizonte?

Valv: Luciano - É muito boa, porque bandas não faltam, de todos os estilos. Cada dia pinta uma nova. Muitas de qualidade. Agora, existe a dificuldade de aparecer para a própria cena, porque falta espaço. O espaço que tem é A Obra. Mas não faltam bandas batalhando, a ponto de fazer 37 shows na Europa, como o Carather. Tem um pessoal fazendo um som bem diferente, como o mordeorabo. Bandas que estão aí há mais de quatro, cinco anos, como o Vellocet, o Multisofá, e as novas: o Tênis, os Highhats.

Daniel - Tem uma banda nova, o Moldest, que está fazendo um som que eu nunca imaginaria que eu estaria fazendo com 16, 17 anos. E os meninos estão aí detonando. Então, eu acho que o futuro é promissor.


Valv: Alexandre, Alessandro, Daniel e Luciano

Pílula Pop: Vocês começaram a tocar há muito tempo. Acham que desde então melhorou alguma coisa na cena de BH e do Brasil?

Valv: Luciano - Sim. Posso falar que estou há dez anos na cena independente. Melhorou a estrutura, os equipamentos, a atenção que é dada às bandas. Principalmente quando a gente está tocando nos festivais, a gente sente uma vontade maior de dar uma estrutura melhor aos músicos. É bem diferente. A moda dos festivais está mudando isso.

Daniel - Eu ainda acho que as outras cidades, no geral, estão andando muito mais rápidas do que Belo Horizonte. Falta iniciativa, e acho que falta mais interesse do público também.

Luciano - Se compararmos com Goiânia...

Daniel - Goiânia é um exemplo a ser seguido.

Luciano - Eles têm uma cena musical, não só independente, muito melhor do que a de Belo Horizonte. São Paulo, Rio de Janeiro e também Curitiba, Porto Alegre. Vitória também tem uma cena punk-rock independente melhor do que a de BH.

Pílula Pop: O que pode melhorar em BH?

Valv: Luciano - Você pode perceber que essas cidades que eu citei sempre têm os cabeças: produtores que estão fazendo acontecer. Em Goiânia tem o pessoal da Monstro, do Gnu (Goiânia New Underground), que são o Luciano e o Daniel Drehmer. O pessoal de Brasília, do Senhor F, estão sempre fazendo coisas. Aqui em BH tinha a Motor Music. As únicas coisas que vinham daqui eram da Motor e d’A Obra. Eu sei que tem gente aí com idéias novas e que já estão funcionando, vamos ver se vai dar certo. Já tem produtora nova no pedaço tentando agitar.

Pílula Pop: E você acha que com o fim da Motor a cidade perdeu muito?

Valv: Daniel - Claro.

Luciano - Eram as únicas chances de shows grandes, de bandas diferentes em BH. Não só a cidade, o Brasil inteiro perdeu.

Pílula Pop: Vocês são influenciados por muitas bandas estrangeiras. Escutam também as nacionais?

Valv: Daniel - Escuto demais. Tem uma banda do Rio que eu adoro, que é a Pelvs. Tem o Wry, que hoje está na Inglaterra, o Grenade.

Luciano - Lá em Goiânia tem o Valentina, que é muito legal. E o Violins, que a gente gosta muito, o Réu e Condenado. Tem o Tom Bloch, banda de amigos, lá de Porto Alegre e por aí vai.

Pílula Pop: Voltando ao Amonite, o que vocês acharam da repercussão?

Valv: Daniel - Eu não esperava que tivesse tanto.

Luciano - Ainda tem. Toda semana a gente recebe e-mail falando do Amonite.

Daniel - Foi a repercussão de um lançamento, mas era uma demo. A gente lançou sem gravadora, sem nada. De repente espalhou. O período sem selo foi curto, três meses. A gente lançou em maio de 2002, em julho o disco já tinha caído nas mãos do Rodrigo Lariú (dono da gravadora carioca midsummer madness). Entramos para a midsummer e as oportunidades se abriram, a divulgação foi muito maior. Começaram a surgir shows bacanas. O de abertura para o Mogwai foi logo depois do lançamento.

Pílula Pop: Entrando numa polêmica: o fato de vocês cantarem em inglês...

Valv: Daniel - No Brasil o pessoal tem mania de encrencar com isso. Fala-se tanto das bandas suecas, que a Suécia é o berço do novo rock. Para quem não sabe, na Suécia se fala sueco. O inglês é uma língua mundial, uma referência para o rock. Além disso, é a opção de cada um, cantar em japonês, em inglês...

Luciano - E ainda, no nosso caso, o Alessandro foi criado na Inglaterra, aprendeu a falar inglês antes do português. Sem falar que todas as referências nossas são de bandas que cantam em inglês. Eu já fiz indie rock em português, mas agora a opção é outra. Cantar em inglês não me faz menos brasileiro, eu adoro meu país. Agora, com as bandas que estão fazendo bem feito em português, isso está acabando. Antes, indie rock, garage, em português era um lixo, mal encaixado, era horrível. Hoje tem muita coisa de qualidade, tanto em inglês quanto em português, então cada um que faça do jeito que achar melhor.

Pílula Pop: Com a facilidade de já cantar em inglês e com uma repercussão tão boa do primeiro EP, vocês não pensam em investir em outros mercados?

Valv: Daniel - A gente nunca foi muito atrás de contatos, de nada no exterior. Mas com esse disco novo, conversamos bastante sobre isso, fizemos alguns contatos fora, até saiu uma coletânea no Japão com uma música nossa.

Luciano - Toda banda tem uma música que saiu em uma coletânea no Japão (risos). Eu acho que vale muito a pena investir no mercado aqui. Tem muito festival acontecendo, cada um mais legal do que o outro, e dão a chance de viajar, conhecer bandas e lugares diferentes. Agora, a gente não vai perder uma chance de fazer uma carreira lá fora. Se tiver a oportunidade de um lançamento, distribuição, de tocar lá, é lógico que a gente não vai recusar.

Pílula Pop: Mas vocês acham que existe espaço para a proposta do Valv no Brasil?

Valv: Luciano: Você pode ver pelo tanto que o Amonite já vendeu. É uma bobagem falar que não há espaço para isso

Pílula Pop: E o que esperar do Valv daqui em diante?

Valv: Luciano - Nosso projeto é o disco novo

Daniel - O disco e o clipe. O clipe a gente vai tocar junto com o disco, e botar isso para rodar o máximo possível, o máximo mesmo. Se depender da gente, tocamos todo final de semana.

Luciano - Não precisa tocar na MTV toda segunda, terça, quarta, toda hora. Se tocar no Lado B uma vez por semana está bom (risos).

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