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Rock Mudo

por Mônica Paula

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A qualidade e a criatividade do som do Modeorabo fazem com que a banda mineira passe longe do mais-do-mesmo. Isso justifica o troféu jóinha que coloca o trio entre os destaques do site TramaVirtual.com.br.

Na última quinta-feira de 2005, Bruno (guitarra), Max (baixo) e Pedro (bateria) conseguiram lotar o bar A Obra, em BH. Além de mandarem muito bem no palco, todas as músicas foram recebidas com animação pela platéia, mas nenhuma das canções foi cantada. Detalhe importante: todas as músicas são instrumentais, ok.

O show também contou com um inusitado amigo oculto proposto pelos integrantes. Para participar da brincadeira, bastava levar um CD-R de áudio com uma seleção musical. A banda ainda distribuiu 50 CDs, com seleção musical feita pelo trio, entre as pessoas que não levaram discos. A brincadeira foi sinônimo de muita diversão, até o Pílula Pop participou e voltou feliz pra casa.

Para saber mais do Mordeorabo, que conseguiu fazer um show bacanudo numa época em que muitos belorizontinos saem em busca de sol e água salgada, o Pílula Pop bateu um papo com Bruno, guitarrista da banda.


Bruno no show-amigo oculto de fim de ano (Fotos do show: Carla DC)

Pílula Pop: Para começar, a pergunta que já devem ter respondido umas 1.985.473 vezes... Por que o nome Mordeorabo?

Mordeorabo: Além de termos achado engraçadíssimo ouvir pelas primeiras vezes o Bruno Nunes, do Constantina (banda de BH), nos tratando assim a partir de uma alegre confusão, adotamos o nome pela singularidade. O (coreógrafo) Rui Moreira contou para a gente no Natal que algumas pessoas perguntam o que significa Mordeorabo, buscando profundidade. Poderíamos responder algo do tipo:

"A boca que morde o rabo o engole? O rabo e o resto do corpo surgem de dentro da boca? Morre-se ao mesmo tempo em que se dá a vida, o ciclo não cessa".

Mas não tem nada a ver, fica parecendo coisa de banda progressiva falar de Uroboros e Infinito. Tem o caso do rapaz que gostou do nosso show, mas não entendeu bem o nome da banda quando o Max anunciou no microfone: "como é mesmo, Pão Com Rato?". É divertido, só!

Pílula Pop: Como começou a banda? Estão juntos desde quando?

Mordeorabo: A banda começou devagarinho e se consolidou com o primeiro show n'A Obra no final de 2003. Contamos antes, no começo, com algumas participações de amigos, algumas idéias diferentes, mas acabou dando no que é. Eventualmente acabará dando no que será: fizemos dois ensaios dia desses com o Raphael Righi, amigão de fina estampa, e deu bem certo. Essas coisas deixam o cotidiano da banda mais agradável, repleto de jovem frescor!

Pílula Pop: Por que a escolha do rock sem voz?

Mordeorabo: Somos desafinados e não contamos com a presença de um João Gilberto, Chico Buarque, Wayne Coyne; arranjamos as músicas de modo que não sentimos falta de um vocalista. Mais curioso é não ser costume perguntar também pela escolha do rock com voz e o lugar desta voz. O tal Wayne, vocalista do Flaming Lips, imagina que não há nada mais empolgante para uma pessoa do que ouvir a voz de outro ser humano muito animado (com alma). Aposto que o PexbaA também tem uma boa resposta para isso!

De vez em quando chega alguém contando que enquanto assiste ao show, fica criando linhas vocais em cima de nossas músicas, legal até! Poder-se-ia (a mesóclise foi sugestão do Word) encarar isso como uma espécie de frustração, mas acho que é mais um efeito de certos estímulos que também acabamos provocando. Não é uma coisa generalizada, claro, e já ficamos bem contentes com o solfejar de nossas músicas!


Pedro na supracitada apresentação da Obra

Pílula Pop: Quais as influências da banda?

Mordeorabo: É um pouco cabeludo falar de influências! Nossa música é moldada tanto por nosso gosto musical quanto por nossa limitação técnica e teórica, sendo complicado ignorar o "filtro" que somos e respondendo simplesmente com uma lista de bandas que gostamos: isto seria fazer pouco caso do nosso esforço e Frankenstein assim também não faria justiça à força criativa dos artistas que admiramos.

Há bandas que nascem com a pergunta: "como vamos soar, com quem vamos parecer, quais são nossas influências?". Antes de tomarmos forma conhecíamos pouquíssimas referências instrumentais no rock; definitivamente não foi nossa história. Em todo o caso, afugentando a resposta antipática: nós gostamos de Ramones e Nirvana!

Pílula Pop: Assistindo ao show do Mordeorabo, minha impressão é que se divertem no palco. É sempre assim? É uma diversão pra banda fazer som ao vivo?

Mordeorabo: Nossa amizade é sempre a força propulsora da dinâmica do show, então a energia costuma ser bacana. Além disso, nossa música é, em geral, pra cima e acabamos contagiados, cada um dos três à sua maneira – vou me defendendo, que sou o mais quieto!

Claro que nem sempre é só alegria, se estivermos mals (atenção senhores editores, plural intencionalmente mal usado) um com o outro, compartilhamos menos os contentamentos do show: é bem viva a interação. A pujança e o vigor também podem ser abalados por problemas técnicos – uma coisa meio Tim Maia, mais internalizada. Sem susto, geralmente é bacana!

Pílula Pop: Como surgiu a idéia do amigo oculto no último show? Gostaram do resultado?

Mordeorabo: Uma semana antes do show o Pedro estava em casa, pensando algo do tipo: "vai passar o Natal, lá vem o Reveillon, oportunidade boa pra fazer uma graça qualquer" e ficou tentando bolar alguma brincadeira. Aí, diz ele, lembrou de uma amiga que participou de um amigo oculto de CDs gravados com a turma da faculdade. Achando transada a idéia, ficou imaginando a alegria disso se funcionasse num show de rock...!

Contou para a gente e fiquei imaginando como operacionalizar: aquele amigo oculto tradicional, falando nomes no microfone seria impraticável, me dava nervoso de pensar. O "CD de Cabeceira" foi um dos troços que pensei, sem isso teria ficado um pouco murcho, com jeitão de panelinha, já que, é claro, nossos amigos se mobilizariam mais. No final foi alegre, todo mundo rindo, muita gente curtiu a surpresa e saiu feliz com o presente na mão!

Pílula Pop: Vocês já gravaram coisas muito bacanas, como a trilha de abertura do programa Olhar Ambiental, da Rede Minas, a trilha original do espetáculo Homens, da Cia. de Dança Será Quê? e a vinheta de abertura da última edição do Indie... Material parece não ser o que falta para a banda lançar um CD. O que falta?

Mordeorabo: Os materiais citados, apesar de nos encherem de orgulho, não contam com previsão de lançamento da forma como existem hoje. Nosso problema, muito discutido entre a gente, talvez seja a falta de cobrança. Para esses "trabalhos" tínhamos prazos rígidos; a trilha do Olhar Ambiental, por exemplo, foi concebida e gravada em uma madrugada, todo o tempo de que dispúnhamos.

Há debates sobre a maneira de gravar, ao vivo ou abusando de recursos de estúdio, fidelidade com o show ao vivo, essas coisas. Não é simples para a gente, mas ainda sai!


Max na mais que supracitada apresentação da Obra

Pílula Pop: Estão no Tramavirtual, acham a Internet um meio legal pra divulgação da banda? Tem funcionado? (Façam propaganda da enquete do Mordeorabo mais gato da comunidade!)

Mordeorabo: A Internet é primordial! A Tramavirtual dá algum retorno, a entrevista foi bacana e tal, mas o sistema de comentário deles não é muito amigável, a alegria acaba ficando no acompanhamento do número de downloads. Tem inda (caipirada intencional) o fotolog, o blog e o mailing list, bons para divulgação de shows e notícias, e a comunidade do Orkut, onde o pessoal participa mais ativamente e rolam algumas coisas mais inesperadas, como a enquete sobre o "rabo mordido mais gato". São formas de estar sempre em relação potencial com quem gosta da nossa música, seja em Belo Horizonte ou fora; os contatos com quem macaqueia a jubilança são quase todos mantidos via Internet também.


Mordeorabo dá risada fora dos palcos

Pílula Pop: Quatro shows marcados em São Paulo só neste primeiro mês do ano. Começaram 2006 com o pé direto, não? Quais os projetos?

Mordeorabo: O maior projeto é sempre a gravação e lançamento do disco. Com ele provavelmente aparecerão mais shows fora de Belo Horizonte, com um retorno maior que o proporcionado somente por apresentações: acaba que se deixa algo a mais para trás. Quanto aos shows em São Paulo, é um investimento isso de se apresentar em lugares diferentes, custa dinheiro e tudo, mas tem sido bastante prazeroso esse começo de conquista dos além-mares de morros. Vale a pena!

Como o Pedro disse em outra ocasião, "existem festivais e muitas casas que abrem espaço pra esse tipo de música, por essência já 'alternativa'. Tem bastante gente que gosta, vai a show, compra disco, se diverte. Todo um esquema miúdo e agradável. Nesse sentido, se bem feito e bem divulgado, o rock instrumental funciona que é uma beleza". Não é?! =)

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