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Com o pé direito

por Daniel Oliveira

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Carioca, careca e muito boa-praça. Foi esse o Gustavo Acioly que recebeu os jornalistas para uma coletiva descontraída em Tiradentes, falando a vontade, e com confiança, sobre “Incuráveisâ€, sua estréia em longa-metragem. A segurança na direção do elenco de peso do filme (Dira Paes e Fernando Eiras) vem da experiência em curtas – foram quatro. Agora, para responder aos jornalistas, a segurança vem da esposa e produtora, Laura Pozzobon, o tempo todo ao seu lado.


A equipe do longa, da esq. para a dir.: Gustavo Acioly, Fernando Eiras, Luiz Guimarães de Castro (editor) e André Weller (diretor de arte)

Pílula Pop: Como surgiu a idéia e como começou a produção de “Incuráveisâ€?

Gustavo Acioly: O filme é baseado em uma peça do Marcelo Pedreira, “A dama da Lapaâ€. Quando saiu um concurso do MinC [Ministério da Cultura] para longas de baixo orçamento, entrei em contato com ele e propus a adaptação porque tinha gostado muito do texto. Adaptamos juntos, Marcelo e eu, e foi muito simples. Não acrescentamos diálogos, nada. É bem fiel à peça.

Pílula Pop: E o filme é dedicado ao Leon Hirszman [diretor brasileiro dos anos 60/70], né?

Gustavo Acioly: Sim. É um dos meus diretores favoritos. A linha mestra dos filmes dele é o elenco. É um trabalho de dramaturgia, que demanda dos atores. Meu cinema também tem sido assim. “Incuráveis†é um filme com dois personagens em um cenário quase único. Meus curtas também tinham esse foco em um elenco reduzido.

Pílula Pop: E como foi o processo de produção? Sendo um filme basicamente de elenco, foi preciso muito ensaio?

Gustavo Acioly: Nós não ensaiamos previamente. Tivemos três encontros para leitura do texto, que meio que serviram como ensaio. Filmamos a história na ordem cronológica, durante quatro semanas em um estúdio, e discutíamos o texto durante os intervalos. Eu esvaziava o set e ficávamos o Lula [Carvalho, diretor de fotografia], os atores e eu, mudando a disposição de câmera, cenário, elenco, com base no que o texto pedia. Experimentamos praticamente todos os enquadramentos possíveis. No final, já não sabíamos mais o que fazer. Estávamos esgotados. Mas foi um processo bom, de aprendizado. Éramos 16 estreantes em longa metragem, inclusive eu, e acho que foram grandes estréias.


O elenco: Dira Paes e Fernando Eiras

Pílula Pop: E como foi a escolha do elenco?

Gustavo Acioly: Conheci a Dira [Paes] no Festival de Santa Maria da Feira e fiquei encantado. Sempre a achei uma grande atriz. E eu sabia que devia encontrar primeiro a atriz para depois escolher o ator. Quando a Dira leu o roteiro e aceitou, disse pare ela que tinha pensado em um ator. Ela disse que também tinha. Perguntamos quem era e os dois responderam “Fernando Eirasâ€. Ele é um ator enigmático, de teatro. A Dira é uma atriz mais de cinema. Esse embate de escolas no filme foi bom para os dois. Um aprendeu muito com o outro.

Pílula Pop: E o que o Marcelo, autor da peça, achou do filme? Ele também participou das filmagens?

Gustavo Acioly: Não, ele não estava nas filmagens e isso deixou ele muito nervoso [risos]. Mas a gente sabia que, para ter a liberdade necessária, o Marcelo não poderia ficar no estúdio. Ele entendeu e, no final, gostou muito do resultado.

Pílula Pop: Apesar de ser um trabalho de atores, a fotografia também tem um papel fundamental no filme. Como foi sua parceria com o Lula Carvalho?

Gustavo Acioly: Foi um trabalho de trio: do Lula, do André Weller, diretor de arte, e meu. O Lula fez uns testes e chegou a um processo chamado bleach by pass, em que um dos banhos de revelação é pulado. Isso deixa um limite muito pequeno entre claro e escuro, aumenta muito o contraste. O filme tem isso de não revelar, os personagens estão no escuro. O André falava para o Lula: “Não ilumina isso. Não ilumina aquiloâ€. Nenhum diretor de arte faz isso, pelo contrário [risos]. Usamos muito a simulação de luz de abajur. Queríamos que a luz pudesse ser pega, de tão granulada. Foi uma fotografia no fio da navalha.


O escuro da bela fotografia de Lula Carvalho

Pílula Pop: Você também participa da trilha. Como foi a composição – existe uma influência d’O último tango em Parisâ€? Uma espécie d’O último tango na Lapaâ€?

Gustavo Acioly: [risos] Sim, eu dei a referência do último tango para o Léo [Guimarães, compositor da trilha]. Queria que tivesse aquela espécie de momento que o Gato Barbieri criou, em que a música levanta e domina. Eu sempre tive problemas com trilhas, meus três primeiros curtas não têm trilha. Mas o Léo estava produzindo meu CD [Acioly também é músico e compositor] e eu conversei com ele a respeito do filme. Ele apareceu com a trilha pronta no outro dia e nós gravamos.

Pílula Pop: O final do filme deixa mais perguntas do que respostas. Você sempre teve certeza de que ia manter o final original da peça?

Gustavo Acioly: Sim, eu acho que não é possível dar uma resposta. Mas nós filmamos vários takes diferentes da cena. Da Dira e do Fernando com cada um falando, depois escutando, em vários enquadramentos. Teve um em que eu estava na Dira, a cena terminou e eu continuei filmando até o rolo acabar. Ela começou a chorar, foi muito bonito. Mas optamos por aquela versão que está no filme mesmo. É a mais fiel à proposta do Marcelo.

Pílula Pop: E qual é o seu próximo projeto?

Gustavo Acioly: É uma adaptação da história de Adão e Eva, mas está no começo, não posso falar muito sobre ela.

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