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Zezé Di Camargo – O Contador de histórias

por Daniel Oliveira

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“A idéia surgiu em uma conversa informal minha e do Luciano. Só que a gente ainda tinha medo do lugar-comum, da vaidade de artista que faz sucesso e quer fazer um filme qualquer sobre sua vida, com uma história sem pé nem cabeçaâ€, conta Zezé di Camargo. “Aí a gente comentou com o Alexandre Schiavo, que hoje é presidente da Sony, que a história do nosso pai era muito boa, dava um filme. Contamos a história para ele, que levou para a Columbia Tristar e voltou dizendo ‘cara, eles gostaram muito da história e disseram que ela tem que ser contadaâ€. Assim, Zezé, sem Luciano que passava mal no dia – deve ter ficado no quarto descansando ou vendo depoimento da CPI na TV Senado – narra a vida embrionária de “2 filhos de Franciscoâ€.

Todos só queriam saber de Zezé. Ele domina as atenções da coletiva e não pára de falar, enquanto não cessa a metralhadora de perguntas dos jornalistas. “Não fizemos um livro porque o filme é mais abrangente, mais popular. Não existe um hábito de leitura no Brasil, infelizmenteâ€, de um lado. “O longa não é uma homenagem ao meu pai, nem a nós, nem a ninguém. É simplesmente uma história que merecia ser contadaâ€, de outro. “Não é uma biografia de Zezé Di Camargo e Luciano. Queríamos mostrar o início, a história que ninguém conhece nem viu na TVâ€, arrematando.

Foi a Columbia que entrou em contato com a Conspiração Filmes, que indicou Breno Silveira, único membro que ainda não havia dirigido um longa, para a produção. “Na Conspiração, existe uma fila de direção de longas e eu era o próximo. Disse que conhecia pouca coisa da dupla. Tinha um projeto que eu estava desenvolvendo com o Paulo Lins [autor de Cidade de Deus] há quatro anosâ€, lembra Breno. “Eu me aproximei do filme através do material coletado pela jornalista Patrícia Andrade, que estava pesquisando a vida deles, e mais tarde escreveu o roteiro com a Carol Kotscho. Quando a Patrícia me contou aquela história, eu não tive dúvida de que ela devia ser filmada. É um drama universalâ€, considera ele a respeito de sua entrada no projeto. “O Brasil tem muitos Franciscos vitoriosos, como o do nosso filmeâ€.

Entram em cena Ângelo Antônio e Dira Paes que – eu nem te disse, né? – também estavam lá, respectivamente, pai e mãe da dupla. “O roteiro me emocionou. Foi o ponto de partida em que eu me baseei para criar a personagem. Não a conhecia a D. Helena [mãe do Zezé] e achei isso mais confortável. Ela é como várias mães que eu conheço, sofredora, batalhadoraâ€, explica Dira. “O Breno me deu o perfil e a orientação. Quando eu e ela nos encontramos no último dia de filmagem, nós e toda a equipe ficamos chocados com o quanto estávamos parecidas, com o mesmo corte de cabelo, tiara, roupa. O Breno ficou pasmo olhando a gente andar pelo setâ€.

Breno Silveira aproveita o gancho: “nossos personagens têm as almas dos atores. Ângelo, as crianças, Dira, o Márcio que eu descobri em uma novela e vi que era a cara do Zezé. Não é só aparência física, demos sorte. Isso é muito importante em uma história real e é uma coisa ímpar no cinemaâ€. A escolha do intérprete do pai-título foi simples. “Vi Ângelo com um chapéu no ‘Vale a pena ver de novo’ e gritei: é o Francisco. Pega ele! Foi o primeiro escolhido do elencoâ€.

Ângelo também é outro apaixonado. “Esse roteiro é verdade. É incrível, me emocionou. E quando eu fui para a fazenda do tio do Zezé, conhecer o seu Francisco, eu vi aquele personagem. Via ele andando, trabalhando na roça, muitas coisas. É...â€

E aproveitando que Ângelo é mineiro, fala pouco e come quieto, Zezé já engata seu próximo caso: “E a gente não contou pro meu pai porque o Ângelo estava indo para lá. E ele também não é ligado em televisão, novela, então também não o conhecia. Quando eu liguei para perguntar o que ele estava achando da visita, meu pai disse: ‘ele é muito bom, meu filho, muito educado. Mas especula demais! Tudo, ele pergunta, tudo quer saber. Vai pra cima e pra baixo comigo. Para onde eu vou, já tô até chamando ele antes’â€.

Outra inspiração para o ator mineiro foi as crianças do filme, em especial Dablio Moreira, que interpreta a primeira fase de Zezé no filme. “Quando eu vi o vídeo dele cantando ‘É o amor’, eu pensei ‘meu Deus, isso é o filme. Esse é o Zezé’â€, diz o entusiasmado Ângelo. “Aquela força, a paixão que ele botava na voz era a essência do roteiro e daquela históriaâ€, lembra o ator. “A gente já tinha testado mais de 300 crianças no Rio e São Paulo e estava dando mais importância à atuação do que ao canto. Aí, fomos para Goiânia e apareceu esse vídeo do Dablio, que eu vi e sabia que tinha acabado minha busca pelo Zezéâ€, explica Breno.

E, é claro, já vinha Zezé com outro caso: “Eu e o Luciano já conhecíamos o Dablio e o Marcos [que faz Emival, irmão que fazia dupla com Zezé antes de Luciano] através do programa do Faustão. Eles faziam parte, cada um, de uma dupla mirim e teve esse concurso em que a gente encontrou com eles em um festival. Eu já tinha cantado com o Dablio e ficado impressionado com a voz do menino. E o Breno e a produção escolheram sem saber de nada dissoâ€, narra o empolgado Mirosmar.

“2 filhos de Francisco†ainda fez Zezé voltar a Pirenópolis, sua cidade natal, aonde ele não ia desde que a família foi tentar a sorte em Goiânia, como mostrado no longa. “O filme foi feito na casa onde morávamos. A mesa era a nossa mesa, o pilão também. No interior, naquela época, era normal vender uns móveis maiores, que não era possível carregar, junto com a casaâ€, lembra o sertanejo. “A única diferença era um cômodo que eles tinham aumentado. O resto era tudo igualâ€, conta, reconhecendo o trabalho de pesquisa e da direção de arte de Kiti Duarte.

“Ah! E sobre sua relação com o Lucianoâ€, uma repórter se lembra do adoentado irmão de Zezé. “O Luciano foi uma luz na minha vida. Ele era bem mais jovem e vivia em Goiânia. Via gente famosa cantando música que eu compunha e as vezes em que eu apareci no programa do Bolinha e achava que eu fazia sucesso em São Paulo. Ficava percorrendo as discotecas de Goiânia para mandar tocar minhas composições porque não tinha dinheiro para comprar os discosâ€, narra. “Aí, foi para São Paulo atrás de mim, que já estava bem desanimado. Foi quando resolveram gravar meu primeiro disco. Ele disse ‘nós vamos gravar esse disco e vender 1 milhão de cópias’. Eu disse que sonhar não pagava, né? Mas achava que ele estava delirando. Ele foi uma luzâ€, declara Zezé.

_“Luciano significa luz†– revela Dira.

_“Mesmo?†– diz o perplexo Zezé.

_“Verdade†– afirma Dira.

_“Nossa†– admite Zezé.

“Ah, vamos falar do show que vocês fazem amanhã!â€, diz uma animada jornalista. “Já está esgotado, né? Então a gente não precisa falar mais, nãoâ€, responde o sincero Zezé. Todos fazem uma cara de concordância, exceto a pobre jornalista, que fez uma cara que você faz quando todo mundo faz uma cara de concordância, menos você.

No final das contas, nem tudo era realmente o que parecia. Zezé era um contador de histórias nato, que se soubesse filmar, poderia ter feito o filme ele mesmo. As jornalistas oba-oba fizeram umas perguntas até interessantes. E esse decrépito escriba conseguiu formular questionamentos pertinentes: a ZCL [produtora de Zezé Di Camargo e Luciano, que é uma das responsáveis pelo filme] vai continuar produzindo cinema? “Não, é um projeto só. Se esse fizer sucesso, talvezâ€, diz Zezé. Qual a sua cena preferida do filme? “Aquela em que o Francisco vê o filho tocar a sanfona, mais de um ano depois do acidente. É só o olhar dele e é a esperança, ele vendo a semente que plantou ainda viva. E no final, também, quando meus pais apareceram em um show no Olympia sem eu saber. Chorei no palco. Todo mundo chorou naquele dia. Até a equipe do filmeâ€. E para o Breno: é verdade que o material filmado pode render uma minissérie para TV? “História para contar, tem. Se alguma emissora se interessar...â€. Razão de tanto otimismo e do clima alegrinho desse final? Provavelmente, é o amor, insuportável e sertanejamente transbordando em cada um dos entrevistados.

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