A cantora de Juno
por Braulio Lorentz
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Kimya Dawson tem 30 anos e voz de uma garota não muito mais velha do que a protagonista do filme Juno, interpretada pela candidata ao Oscar Ellen Page. Com oito músicas folk (ou antifolk, como ela define) na trilha da sensação adolescente-independente-surpreendente deste começo de 2008, ela arranjou um tempo em sua agenda para responder às perguntas sobre o Moldy Peaches, finada dupla em que se destacou, e o sucesso da trilha de Juno, que chegou ao topo da parada de discos da Billboard americana.
A dupla
Pílula Pop: Como você conheceu seu parceiro de Moldy Peaches, Adam Green?
Kimya Dawson: Eu trabalhava em uma loja de discos em Nova York e o Adam era tipo um garoto de 12 anos que visitava o local. Os pais dele até queriam me pagar para que eu levasse ele para ver shows. Depois de conversarmos um pouco na loja e nos tais shows, de uma hora para outra começamos a fazer canções juntos. Assim surgiu o Moldy Peaches.
Pílula Pop: E quais seriam as diferenças entre as canções de sua carreira solo e as dos tempos de Moldy Peaches?
Kimya Dawson: Para começar, minhas canções solo são escritas apenas por mim. Adam e eu não compomos canções do Moldy Peaches há muitos anos. Eu me sinto muito mais conectada com as músicas que faço hoje. Eu era menos direta nas gravações do Moldy Peaches, pois as idéias estavam presentes de um jeito meio enigmático. Várias músicas do Moldy Peaches parecem que são engraçadas, mas na verdade são tristes. No meu trabalho sou mais honesta. Eu sou menos tÃmida sobre o que quero cantar agora.
Pílula Pop: Quando e como você foi convidada para participar da trilha de Juno? O que mudou na sua vida após o filme? Você conhecia a atriz Ellen Page antes do convite?
Kimya Dawson: Ano passado uma moça que estava trabalhando no filme, Kara Lipson, me mandou um e-mail contando sobre o projeto. Ela me enviou um roteiro e, depois de lê-lo, eu fiquei bastante animada. Por causa de Juno, mais pessoas sabem quem sou eu e meus shows estão cada vez maiores. Mas como não tenho TV, ainda não notei uma grande diferença.
A carreira solo
Pílula Pop: Como foi o processo de gravação de versões instrumentais para Juno? Você gostou de como suas canções foram usadas no filme?
Kimya Dawson: Mateo Messina, Jason Reitman e eu fomos para um estúdio em Seattle. Jason me disse quais canções queria que eu gravasse. Nós comemos biscoitos com as luzes apagadas e jogamos bastante conversa fora. Nós fizemos um monte de versões diferentes e Jason escolheu as preferidas dele para serem utilizadas no filme. Quando vi Juno pela primeira vez, eu fiquei surpresa com o destaque que a música tem. Foi bem empolgante.
Pílula Pop: Você acha que suas canções combinam com os personagens de Juno? Por quê? Como você compõe?
Kimya Dawson: Eu poderia muito bem me relacionar com os personagens. Juno é uma jovem garota desajeitada tentando ser durona e engraçadinha mesmo com um monte de coisas difÃceis na vida dela. Mas na verdade ela está sufocando por dentro. Fica na defensiva e é até má como resultado disso. Tirando a gravidez, eu era uma garota parecida com a Juno. Eu adoro o modo como as emoções coexistem juntas no filme e na personagem. Minha música é similar. Com uma canção você pode ir do feliz para o triste para o louco para o divertido para o sei lá o quê.
O disco
Pílula Pop: A CD com a trilha de Juno (com oito canções suas) chegou ao topo da mais importante lista de discos da Billboard. O que você pensa sobre isso?
Kimya Dawson: Eu nunca liguei para paradas e posições em listas, números ou vendagens dos álbuns. Essa coisa toda é estranha para mim. Meus shows vão ter platéias maiores, mas fora isso sou a mesma.
Pílula Pop: Você gostou da versão de "Anyone Else But You" feita pelos atores Michael Cera e Ellen Page que aparece no fim de Juno? Como foi ouvir o CD com suas músicas e a de outros artistas?
Kimya Dawson: Eu acho que a versão que eles fizeram para esta música ficou muito doce. Eles são pessoas maravilhosas. É meio esquisito para mim ouvir o CD da trilha de Juno. Parece como se eu tivesse feito uma mixtape [compilação] bem pretensiosa. Algo como "Olha só essa música do Kinks, e aqui é uma música minha. Oh, aqui sou eu de novo". É bom, mas é estranho. Eu estou lisonjeada pelo Jason ter gostado do meu trabalho desta maneira.
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