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Um programa de rádio é pra isso

por Braulio Lorentz

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Já experimentou contabilizar o número de bandas iniciantes que fazem uso dos comentários elogiosos que o tecladista do Skank faz em seu programa radiofônico Frente? Eu não. Tenho mais o que fazer. Fato é que muitas bandas olham para a foto de Portugal nos encartes da banda mineira e o chamam de papai.

Agora no MySpace, o músico mineiro abre espaço para artistas visuais e lança o manual da banda independente, em que defende idéias como a de que "não existe melhor momento na história recente da música para se estar desvinculado de uma gravadora". Em entrevista por e-mail, ele nega a paternidade ("Não me acho um pai pra maioria das bandas"), prefere se esquivar educadamente quando perguntado sobre o novo disco do Skank e diz que não conhece tanto o trabalho de Mallu Magalhães para emitir uma opinião. Leia, abaixo, as perguntas e respostas.

Pílula Pop: Frases ditas por você são incluídas nos releases de várias bandas iniciantes. Como é para você ser considerado padrinho de grupos com os quais você por vezes não tem contato algum? Nem todas são como o Monno, por exemplo, com o qual você tem uma relação de mais proximidade. A maioria você ouviu o disco e apenas comentou no programa. É estranho ser o pai de tantas crias?

Henrique Portugal: Não me acho um pai pra maioria das bandas. O que eu tento, ao fazer alguns comentários, é que as bandas encurtem um caminho que já não é muito fácil. Quando o SKANK começou eu sentia falta de receber alguns comentários sobre o trabalho, dicas sobre o que fazer e, principalmente, o que não fazer. Ser independente não é fácil, apesar de achar que não existe melhor momento na história recente da música para se estar desvinculado de uma gravadora.

Pílula Pop: Bandas do novo pop mineiro como Udora, Transmissor, Cinco Rios e Monno tentam ganhar projeção, mas não conseguem sequer a mesma atenção que é dada a bandas de pop rock que não são tão conhecidas do grande público (Moptop, Leela, Cachorro Grande, Vanguart). Existe um motivo para que isso aconteça? Seria coincidência a OutraCoisa não ter lançado disco de nova banda mineira, tampouco a Deckdisc? Por qual razão outras vitrines deste porte também passaram em branco no que diz respeito ao rock de BH? (Só consigo lembrar do Strike, de Juiz de Fora, que tenha sido mais falado nos anos 00).

Henrique Portugal: Me lembro de quando o Skank estava começando e ser contratado por uma gravadora parecia um sonho impossível. Não acredito nestas comparações de que você ser de tal lugar pode ser mais difícil. O Vanguart é um exemplo. O Los Porongas outro. Hoje as gravadoras estão se reestruturando e novas oportunidades estão aparecendo. O mais importante é estar pronto para quando uma oportunidade surgir. Mas no fundo eu acredito na vontade e na qualidade do trabalho de cada um. Isto sim, faz a diferença.

Pílula Pop: Levando em conta o que já foi divulgado dos novos discos do Jota Quest e do Skank, parece que as bandas lançarão CDs que remetem aos trabalhos do início da carreira. O Jota, ao lado de Kassin e Caldato, buscaria ganhar mais prestígio com os críticos. E vocês, na parceria com Dudu Marote, e após o lançamento de "Beleza Pura", dão a entender que podem retornar ao pop mais festivo da época de Calango e Samba Poconé. O que você pensa sobre essa análise? Dois dos maiores nomes do pop brasileiro estariam propondo uma volta à estética do começo de banda? Não é algo arriscado? Os fãs não estariam já acostumados ao Skank fase britpop-beatles e ao Jota fase baladas e pop-rocks odiados pela crítica e amados pelos fãs?

Henrique Portugal: Não posso te dizer se tem algum sentido. O Skank começou há pouco a produção do novo álbum e ainda não definimos qual será o caminho sonoro que vamos seguir. Com relação ao Jota Quest, não sei quais os objetivos da banda neste momento.

Pílula Pop: Quais as diferenças do Frente da Oi Fm e o do MySpace? Muda muito o público? Além das opções de vídeo e exposição do trabalho de designers, o que mais há de opção?

Henrique Portugal: Quando recebi o convite pra levar o programa para o Myspace fiquei muito feliz. Hoje a maioria dos artistas de todo o mundo tem a sua página no Myspace. Existe uma grande diferença de você fazer o programa numa radio e na internet. Na internet você tem mais liberdade, mas a rádio te coloca em lugares onde a internet não consegue. Atualmente o programa está no Myspace e também no site, onde o internauta pode conferir os programas anteriores (www.programafrente.com.br). Esta idéia de mostrar vídeos e artistas visuais é porque não acredito na música sem imagem. Hoje em dia, a maioria dos aparelhos onde você pode escutar uma música, você também pode colocar uma imagem. Seja no seu player de mp3/mp4 ou no aparelho celular.


Henrique não diz "Tchubaruba"

Pílula Pop: Você gosta das músicas de Mallu Magalhães? O que acha da trajetória dela, que tem menos de seis meses? Mesmo cobiçada por quatro gravadoras, os primeiros contratos que assinou foram com a Levis (integra o Levi's music) e com a Vivo (trilha da recente propaganda da marca). É estranho ver três presidentes de gravadora na ponta dos pés para ver o show de estréia no Rio da menina, no Cinematèque? Não é mais estranho ainda saber que o empresário, Mallu e sua família cogitam não assinar contrato com gravadora alguma?

Henrique Portugal: Eu não conheço tanto o trabalho dela pra emitir uma opinião. Já vi esta historia acontecer algumas vezes. Ela é muito nova e ainda tem que trilhar um bom caminho. Acho importante ver artistas como ela aparecendo. A música precisa disso. Assinar um contrato com uma gravadora pode ajudar muito. Mas esta é uma decisão pessoal e pode mudar completamente o destino da carreira dela.

Pílula Pop: O Skank fez fama não apenas por sua música, mas também por ter sido sinônimo de banda que, quando independente, soube tocar bem a carreira ao marcar shows e até gravar um CD (o que era muito mais difícil na época). Novas bandas sempre pedem conselhos para você? Por que resolveu criar o Manual da banda independente? Vale a pena ser independente ou bandas gigantes como o Skank não sobreviveriam sem a estrutura e o apoio de uma multinacional do ramo de discos?

Henrique Portugal: A idéia do Manual veio da quantidade de e-mails que eu já recebi com perguntas sobre o que fazer principalmente depois de gravar um CD. A experiência da independência, no inicio do SKANK, nos ajuda até hoje. O que eu mais vejo é que uma banda mal começou a ensaiar, ainda não tem boas músicas e já quer gravar um CD. Aí gasta mais tempo tentando divulgar um trabalho de qualidade duvidosa do que tentando melhorar o ainda não estava pronto.

Com relação às gravadoras, eu penso que ajuda bastante quando a parceria está equilibrada. Ninguém te obriga a assinar um contrato com uma gravadora. Você assina porque quer. Então tem que saber o que você precisa dela e também quais as suas obrigações.

Pílula Pop: Você sempre foi ligado à música, então é natural que dê apoio às novas bandas. Mas como foi a idéia de prestigiar e ser uma vitrine de designers?

Henrique Portugal: Durante alguns anos, os artistas visuais, atores, diretores, designers ficavam mais próximos da música. Principalmente durante os anos 60 e 70. A minha idéia é que, além da tecnologia possibilitar colocar imagens onde se coloca uma música (players de mp3/mp4), é fazer um link entre os músicos e os artistas independentes. Quando eu vejo um filme ganhador de Oscar como o recente Juno usar uma trilha sonora de artistas independentes, fico pensando quando isto vai acontecer no Brasil. Será que vai demorar?

Pílula Pop: Por você estar sempre em contato com bandas independentes, faço a seguinte pergunta: por qual motivo grupos são comparados com tanta freqüência ao Los Hermanos?

Henrique Portugal: Não vejo esta freqüência tão regular quanto você menciona. A segmentação que acontece hoje na música gera uma variação muito grande de referências musicais.

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