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A quem a letra não urge? Considerando essa necessidade da escrita inerente a muitos, cá estão algumas letras que buscam cores como tratamento para dores diversas. |
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Um outro dia
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Era mais um desses dias em que fechamos a porta do carro e nada dizemos de importante. Ele sorriu e pôs-se a dirigir, levá-la de volta, devolvê-la ao estatuto de ausente na sua vida.
Ela? Uma tranqüilidade insaciável. Talvez melhor mesmo, o silêncio.
Mas havia um vazio de palavras, um desses buracos que a puxava. Ele abriu a porta do carro com força e saiu, deixando-a lá, atônita. Fora tão rápido que ela não tivera sequer a oportunidade de sussurrar: Aonde vai? Ele talvez responderia: para longe desse silêncio todo, quero vozes, quero cores.
Ela olhou para o chão, o carro estava sujo. [Arruma o tapete não, vai sujar sua mão]. Ela arrumou e sujou a mão. Ele voltou após uns dez minutos com um cigarro de palha. [Se importa de dirigir?]. Ela dirigiu, silenciosa ainda mais, não era uma exÃmia motorista.
Ele fumou e a cada tragada – lenta – um respiro, um suspiro. Por que viagens de carro me parecem assim, tão eternas quando estou como passageiro, pensava ele.
Ela: - Sua tosse melhorou?
Ele: - Sim, tomei um antialérgico.
Ela: - Ah! Que bom!
Mais um tempo longo de silêncio. Nada mais incômodo para um quase casal com pendências subjetivas a serem resolvidas. Ela pensava como gostava da companhia dele. Ele pensava como o cigarro de palha apagava a cada momento. [Que coisa!]. Nada de palavras. Ela chegou a sua casa. Despediram-se com um beijo. Bochecha.
Ele se foi, ela entrou, a casa uma bagunça, dormiu no sofá.
Ele dormiu na cama, mas só.
-- Camilla Felicori gosta muito de cores. camilla.felicori@gmail.com
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