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A quem a letra não urge? Considerando essa necessidade da escrita inerente a muitos, cá estão algumas letras que buscam cores como tratamento para dores diversas. |
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O vento
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Às vezes quando caminhava em direção ao trabalho, sentia um vento que a puxava.
Sempre alheia aos outros transeuntes, Maria observava a grama, o sol batendo nas folhas das acácias e alguma borboleta amarela insistindo em rodopiar perto. Mas o que mais a chamava atenção era o rastro verde deixado sempre que o vento a levava para lugares dos mais inusitados.
Um dia, caminhava pensando na couve-flor do almoço quando foi levada para uma plantação de flores onde caminhou até se cansar de ver tantas cores. Outra vez se viu pensando no vizinho silencioso que jamais a cumprimentava e logo o vento a levou até a mente dele onde viu algumas angústias, passeou entre dores, caiu em buracos profundos e quase não escapou dessa, não fosse um rastro de esperança ali deixado por ele para salvá-la.
Algumas vezes seus passeios eram mais demorados e chegava atrasada no trabalho. Um dia, seu chefe, cansado de tantos atrasos, deu a ela o ultimato: - Dona Maria, na próxima vez que a senhora chegar atrasada perderá o emprego!
Maria, que tinha todo mês alguns compromissos com o código de barras do seu banco, do banco do governo e do banco do diabo a quatro ficou um pouco preocupada com a fala do chefe e, no dia seguinte, ao sair para o trabalho, trouxe na bolsa algumas pedras e os soldadinhos de chumbo – herança de seu avó – para tentar lutar contra aquele vento. Ela não poderia evitá-lo, mas tentou não pensar quando começou a senti-lo. Porém, viu que isso não era possÃvel, logo estava pensando na impossibilidade de pensar e ao pensar isso viu seu rastro e em segundos lá estava ela na biblioteca de Paris em meio à s estantes de filosofia, rodeada por livros em francês. Paralisada, não sentia vontade de passear por entre aquelas estantes. Ela não entendia francês, não sabia aonde ir nem o que fazer para se salvar dessa vez. Abriu a bolsa em busca de alguma idéia e suas pedras e seus soldadinhos não estavam mais lá. Cansada de tentar buscar saÃdas, dormiu.
No dia seguinte ela não voltou ao trabalho.
-- Camilla Felicori gosta muito de cores. camilla.felicori@gmail.com
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