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A quem a letra não urge? Considerando essa necessidade da escrita inerente a muitos, cá estão algumas letras que buscam cores como tratamento para dores diversas. |
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Último Gole
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Dessa vez ele trazia uma sacola multicor escolhida por ela, repleta de livros, CDs e alguns galhos de alecrim.
Olhou os livros. Ela realmente não deveria ter lido nem um terço deles. Os CDs, sim, ela deve tê-los ouvido repetidas vezes. Ele já previa o arranhão na música 5 do disco de Bach, aquele allegro que ela sempre cantarolava após o almoço, enquanto ele bebia café. Preguiça de allegros. AÃda deixava-o pela última vez na estação de trem. Claro que ela não olhou para trás, ainda que ele tenha esperado por isso durante alguns três minutos.
A essa hora da noite ela já chegou em casa com os olhos de lágrima - ele pensou, enquanto bebia o último gole de chope. Era hábito tomar o chope preto antes de esperar pelo trem, deixando AÃda. Os goles, lentos, ajudavam na digestão das palavras, cheiros e sorrisos. Ir embora nunca era agradável. Deixar AÃda, ouvir os gritos do bebê que insistia em sentar-se no mesmo vagão, ou o adolescente com seu celular, por três horas. Às vezes quatro, quando chovia. Mas hoje ele decidiu, ao terminar o chope, pedir mais um e perdeu o trem das vinte e uma e quinze.
-- Camilla Felicori gosta muito de cores. camilla.felicori@gmail.com
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