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A quem a letra não urge? Considerando essa necessidade da escrita inerente a muitos, cá estão algumas letras que buscam cores como tratamento para dores diversas. |
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Pela última vez
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Vestiu-se com o vestido branco cuidadosamente bordado de pedras pela avó.
No espelho, não viu uma moça bonita de vestido, mas um transbordar de mágoas e desatinos. Sentou-se sobre a renda turca sem tirar os olhos do espelho: definitivamente não era bela. No braço, uma marca de ansiedade pretérita e definida. No dedão direito, o calo do sapato bonito desconfortável de Gilberto. Sapato azul de laço branco. Gilberto, Sara e os sapatos lilazes dela. No ventre, a mágoa de uma criança perdida entre anseios. Sentiu frio. A criança que jamais carregaria chamaria Estrela. A lenda dizia dos heróis que morriam e viravam estrela. Eram heróis ou invenção de sua mente? Desimportante. Chamaria Estrela e teria outros calos, mas usaria o mesmo vestido branco e sapatos de fita amarela. Na Colina, o deixaram fechado, anil com uma fita lilás amarrando a coroa de flores. E o que será do mundo se os inocentes morrem antes? - alguém disse. Melhor o silêncio, ela pensava.
Silêncio.
Silêncio.
Aquiles chegou devagar e viu a mãe tentar rasgar o vestido que segurava na altura do ventre. A ternura do menino e a mudança do olhar: uma mulher e seu filho.
-- Camilla Felicori gosta muito de cores. camilla.felicori@gmail.com
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