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Papel Picotado
Nian Pissolati
Escrevendo, quando em vez.

Se eu fizesse um filme

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Uma bicicleta vermelha que cruza uma rua muito antiga, muito vazia, desses vazios de doer a alma, e uma luz amarela, de fins de tardes de um outono brando. O ciclista é novo, acabou de receber a melhor noticia que poderia ter, que sua prima vai passar o feriado em sua casa, e ele já sabe, que no dia que ela chegar ele estará arrumado, de banho tomado, sentado na sala com os sapatos novos, e da cozinha virá o melhor cheiro que ele sentirá na sua vida, da torta doce da sua avó. E ele sabe que sua prima chegará, com o vestido azul que ela tanta gosta, e seu ar de experiência e toda a maturidade que seus dois anos mais velhos lhe dão, será fulminante, como sempre é. E quando ele for lhe dar um beijo de boas vindas vai sentir o cheiro que todos os dias ele pensa antes de dormir, há pelo menos três anos. E este será um dos 4 dias inesquecíveis que ele lembrará, daqui 40 anos, quando ele estiver deitado em sua cama, recordando em pouco mais de 10 minutos pequenos momentos infinitos da sua vida. Mas nada disso ainda aconteceu. Por enquanto o menino só está cruzando uma rua muito antiga, muito, muito vazia, com uma luz amarela, dessas que só os outonos amenos podem ter, com sua bicicleta vermelha para contar para seus dois melhores amigos que sua prima virá no feriado.

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nianpl@gmail.com

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