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A quem a letra não urge? Considerando essa necessidade da escrita inerente a muitos, cá estão algumas letras que buscam cores como tratamento para dores diversas. |
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Perdida
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Ela fechou a janela do seu quarto. Estava com frio. De todos os sentimentos, este era o que mais a afligia. Não gostava de sentir frio. Nesses dias ela não sabia como parar de senti-lo e, dada a impossibilidade de seu fim, permanecia silenciosa, esperando que o frio se cansasse de tanta ausência, tanto vazio do silêncio e fosse, quem sabe, embora.
Mas ele nunca ia embora. Sempre ficava lá, bem perto dela, parecia de propósito, só para afligi-la. E de nada adiantaria abrir ou fechar janelas, persianas; o frio estava dentro dela. Nenhuma mudança exterior poderia tranquilizá-la, nada.
*****
Nos dias em que sentia frio gostava de criar coisas. Não que seu quarto, pintado de gelo, fosse o ambiente mais propÃcio para tanto, mas já que era sempre ali que sentia essa ausência de calor, ali mesmo buscava afastá-lo.
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Imaginava que o calor habitava as palavras.
Sempre sozinha, cantava e cantava na tentativa de aquecer-se, mas as paredes do quarto gritavam sua cor. E nessa disputa de linguagens ela sempre perdia.
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Perdida em seu quarto imaginava tudo aquilo que não podia fazer. E era tão bonito imaginar, sempre as coisas aconteciam de maneira mais limpa e bela. E quando imaginava qualquer presença que fosse conseguia aquecer-se.
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Mas quente, ferviam-lhe idéias. E cada idéia dizia algo distinto. Embaralhada por tantas palavras, perdia-se.
Encontrava-se cada vez que sentia frio.
-- Camilla Felicori gosta muito de cores. camilla.felicori@gmail.com
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