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Papel Picotado
Nian Pissolati
Escrevendo, quando em vez.

A/C

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Sabe, eu tenho visto muitas pessoas naquela idade em que nos conhecemos, quando ainda ficávamos impressionados com aquelas tardes verdes que costumávamos viver. E é muito engraçado reconhecer nelas aquele típico brilho nos olhos que a gente fazia questão de exibir, numa competição tola, mas necessária, de quem engolia mais olhares de pessoas alheias. Você não vai crer, mas também eles fazem isso. É estranho, eu sei, porque também eles, às vezes, em milisegundos – os temidos milisegundos – deixam transparecer aqueles abismos incuráveis, que provavelmente daqui há alguns anos, estarão devidamente escondidos num canto.

Na verdade não sei bem o motivo disso tudo agora, até porque, sempre me preocupei em manter aquele discurso enfadonho da não-nostalgia para você. Mas é que as tardes estão cada vez menores, pequena. E naquele tempo nossos minutos significavam tanto... Mas caímos naquela bobagem de pensar em cálculos e querer o prático.

Então, acho que o que realmente quero dizer é pra você cuidar do seu tempo. Volte a acreditar nas horas, nos minutos e principalmente nos milisegundos. Ainda que inventados, eles têm peso. Leve, mas têm. Lembra o que uma pluma fazia com nosso dia? É isso... Que o caminhar dos ponteiros lhe pese como pluma. Eu sei o que você vai querer me dizer, que esse peso causa muito estrago e você não tem tempo nem vontade de lidar com aqueles velhos estragos. Mas o estrago é real. E do real a gente não pode mais fugir. Antes o viver.

Viva, pequena. Por favor, viva.
Ainda que seja noite em nosso quintal.

Com amor,

S.A.

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nianpl@gmail.com

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