Busca

»»

Cadastro



»» enviar
Oito Bits
Cristiano Kolling
"Liga. Não deu? Assopra. Aperta start." Games vistos muito além de pixels e bytes. Histórias, curiosidades e análises mais detalhadas dos jogos e consoles e de sua influência na nossa vida.

O início de tudo...

receite essa matéria para um amigo

Sempre é assim. Quando se é um jogador novo, todos passam pela mesma experiência, é quase obrigatório. Especialmente porque essa experiência quase sempre acontece quando somos crianças ou pré-adolescentes.

Primeiro, o romance começa em lojas de eletrônicos e/ou na casa de amigos e parentes: lá está ele, o console desejado. Com todas aquelas cores vivas, o som contagiante, os jogos fantásticos. Toda semana ele está lá, nos chamando, seduzindo, tirando o nosso sono de noite, nossa concentração nas provas do colégio, tomando o assunto das rodinhas de amigos e colegas. Sim, o videogame é tudo.

Passamos a comprar revistas, visitar websites, saber tudo sobre o tal console. Jargões técnicos são logo dominados para que possamos ter assunto entre os amigos (Nintendo, Sega, Sony, Microsoft, joystick, slot, megabyte, cartucho, cd, dvd, memory card, adaptador, americano, japonês, europeu, ntsc, pal-m, console, portátil, wireless, adúquem, tiger robocop...).

Logo, algumas mudanças sociais passam a acontecer. Estabelece-se uma hierarquia: aqueles que têm o console mais novo são mais procurados e respeitados pelos colegas. Nessa época também se iniciam os primeiros boatos, muitas vezes inventados para se ganhar popularidade.

Além da hierarquia, o companheirismo revela-se fundamental: se um bom amigo ganha um videogame novo, reuniões na casa dele tornam-se uma constante. Dormir na casa dele vira uma boa desculpa para passar a noite jogando, adiar o dever de casa, comer um monte de coisas que são menos nutritivas do que a própria embalagem, fora o “esquecimento†de se tomar banho ou escovar os dentes. É o crime perfeito.

Ainda, inicia-se um processo de condicionamento mental imposto a nossos pais, tios e avós. Todas as semanas, fazemos um comentário sobre o videogame. Falamos sobre como ele é sensacional, como toda a família iria gostar de tê-lo e o quanto precisamos dele. Surgem as primeiras promessas também: estudaremos mais, arrumaremos o nosso quarto, comeremos os legumes, não bateremos nos irmãos mais novos. Qualquer sacrifício é pouco pelo console.

Enfim chega o grande dia. Geralmente é no dia de Natal, mas também ocorre em aniversários ou Dia das Crianças.

Lá está ele: o pacote grande, debaixo da árvore, sempre embrulhado em um papel de cor vermelha com estampas chamativas. Uma coisa linda, de encher os olhos. “Será que é para mim? Podia ser para mim!†– pensávamos, ansiosos. Sim, era: chega o momento tão esperado. Claro, o último presente a ser dado, para encerrar a noite com chave de ouro, para o nosso desespero e ansiedade.

Felizes, não escondemos nossa alegria. O papel tão carinhosamente colocado como embrulho desaparece em segundos, e olhamos para a caixa do aparelho como se fosse um pequeno pedaço do paraíso. Nessa hora, tudo é válido: olhos arregalados, gritos, gargalhadas, lágrimas, agradecimentos, beijos e abraços na caixa. Para quem não conseguir imaginar esta situação, recomendo olharem no YouTube o famoso vídeo do garoto “Nintendo Sixty-Fourâ€

No próximo capítulo, detalhes da primeira noite do videogame novo... até lá!

--
Cristiano Kolling é produtor editorial e nutre uma paixão platônica por Mrs. Pac Man.
cristianokolling@gmail.com

» leia/escreva comentários (3)