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Chá das cinco
Nara Mourão
Pequenas sutilezas cotidianas temperadas com uma dose de canela. Ou fragmentos da vida acompanhados de exagero crônico.

O sol na China

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O frio é maior que o inverno. Música ouvida em dia nublado soa dramática. Filme de dia sem luz é para fabricar questões. Foram três Cds e o dobro de cobertores.

Ela quer mesmo umas boas tequilas e dançar esquisito para perder o sono. Entre o pneumotórax e o tango argentino também prefere o último. Cansou de teoria da conspiração, os vietcongues não estão chegando e Bill Gates não é a besta do apocalipse.

Inventar o mundo é mais gostoso do que fotografá-lo, falar do motivo da asfixia é mais respirável do que guardar para sempre. Esticar o cabelo é uma alternativa simplista para mudar o dia: a repercussão é outra perante os operários da obra mais próxima. Mas não é dessa maneira que se passa de menor para enorme, graças a Deus.

Hoje engasgou com uma laranja, sem ar e sozinha. E quando não tem ninguém por perto achar que vai morrer por coisa pequena não tem graça nenhuma. Por isso escolheu não ter medo do vento. Colocou um cachecol e está por aí recolhendo coisas que garantam um sorriso e pulinhos de alegria, enquanto a hora de dançar não vem.

No Japão já é madrugada

Hoje parece reinvenção. E ainda estou na terça-feira. É dia dos namorados e as ruas estão cheias como nos sábados de sol. Pessoas comprando e correndo... Eu também embarquei no expresso da data e de buscar um presente para celebrar. Lembra aniversário, mas a festa não é de um só. E até agora não entendo como se cria um dia comemorável. Até alguém nomeá-lo como dia de determinado afeto era nada.

E no meio de escolher isso ou aquilo inicio uma conversa com um vendedor pouco satisfeito. Ele confessa sussurrado odiar 12 de junho há muitos anos. Digo algumas palavras que pouco servirão, já que as minhas funcionam melhor quando escritas. Alguns passos depois e situação semelhante. Acho que dramáticos atraem ansiosos por confessar-se com quem nunca viram.

Encerro a andança temendo encontrar mais aflitos. É que dias como hoje causam certa ânsia quando o namoro é só com a gente. E quem não vê como é bom acreditar em si mesmo antes de tudo, pode culpar o mundo por uma noite solitária de pipoca, filme e cobertor. Que tem tudo para deixar a vida mais doce.

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Nara Mourão adora um sorriso largo, mas garante que o dela não passa de 32 dentes.
narachamou@yahoo.com.br

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