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Audiolista
Marcelle Santos
Guia de músicas situacionistas para leitores de áudio-ajuda.

5 músicas para transcender o seu domingo

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É impossível banhar-se duas vezes no mesmo rio. Nessa vida, tudo muda incessantemente... Com exceção, talvez, de Malhação, dos peruanos tocando “Hey Jude†nas praças de todas as cidades do mundo e, é claro, da maldição dos domingos.

O domingo é mesmo um dia essencialmente escroto, e não apenas pela segunda-feira que pesa como uma horrível nuvem negra sobre todos aqueles que precisam ter um emprego - mas também pelas lojas fechadas, pelos programas ruins da TV, pela força do tédio imensa que impede que o seu telefone toque e afasta todos os seus contatos do MSN.

Para exorcizar a maldição do domingo, é preciso que o som esteja suficientemente alto e que você tenha algum espaço pra dançar (e mexer loucamente com os braços e gritar, "Uhuuu!"). Apague o fogo do miojo, assegure-se de que seu estado é de semi-nudez e comece o ritual de auto-libertação.

1. “Get Off Of My Cloud†(Rolling Stones)
Embora praticamente qualquer não-balada dos Rolling Stones contenha sexo o suficiente para te despertar da apatia dominical, este clichê do rock ainda é uma das minhas formas favoritas de espantar as forças do mal. Se o solo de bateria mais libertário do mundo, a letra mal-humorada ou os vocais abusados de Mick Jagger não te excitarem ao ponto de você querer gritar e acordar os vizinhos, cuidado - você pode já estar morto.

2. “So You Want To Be A Rock and Roll Star†(Patti Smith)
É muito provável que estrelas do rock não tenham que lidar com domingos. Quando as drogas que você tem à disposição diluem as fronteiras do espaço-tempo e sempre existe alguém para fazer suas compras de supermercado, é natural que os dias da semana se tornem irrelevantes. Acho que a principal razão pra eu gostar tanto de Patti Smith é que as músicas dela são esporros bem dados. Quando este Keith Richards-mulher grita, "Ei, você, levante-se! Esta é a era em que todo mundo cria!", você fica um pouco com vergonha de continuar deitado e se lamentando.

3. “Silent Kid†(Pavement)
Eu fui uma criança calada. Nenhum tio-babão, tia-urubu, professora-terrorista ou amiguinho do mal me fazia espernear em público. Nem mesmo Suellen, aquela desgraçada que me machucava propositadamente todas as manhãs na hora de formar fila. Esta revolucionária musiquinha do Pavement faz a linha "Tenha força, garoto!", e foi feita pra ser cantada na sala e no escuro, com essa desafinação chateada com o mundo, e de preferência dando chutes no ar.

4. "With A Little Help From My Friends" (Versão Joe Cocker)
Se você é um sujeito bem-intencionado, vai chegar um dia em que vai querer assistir àquele documentário sobre Woodstock. Você vai alugar as duas fitas (ou DVDs) com o casal hippie na capa e levar pra ver com a sua namorada durante o fim-de-semana. Aí, sem dizer um pro outro, vocês vão ficar muito entediados com aquele monte de bandas estranhas no palco. Vocês vão cair no sono para acordar surpresos, como a maioria do público do festival, com a versão mais maravilhosa do mundo de “With A Little Help From My Friendsâ€. Você vai se dar conta de que, ei, era essa a música de abertura de "Anos Incríveis". E, depois, ouvindo isso domingo à noite, sozinho, você vai responder à pergunta,"Do you need anybody?", com um grito cockeriano, e vai entender que é tudo muito muito intenso e...

5. "Helter Skelter" (Beatles)
Como eu dizia, a melhor forma de descarregar as energias negativas de domingo é ouvindo rock clássico. Por quê? Porque o rock clássico é excessivo, não indiferente; porque ele grita, seja pelos vocais inflamados daqueles nossos heróis mortos, seja por aqueles solos de guitarra datados que a gente adora. Por falar nisso, você não vai encontrar por aí um jeito melhor de exorcizar o demônio dominical que nessa sinistra montanha-russa do Ãlbum Branco.

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Marcelle Santos largou os cigarros e hoje se dedica ao adestramento de ursos.
marcellecsantos@hotmail.com

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