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Escrevendo, quando em vez. |
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Aninha querida,
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Escrevo agora, depois de tanto tempo, porque finalmente vivo uma tarde laranja, daquelas que costumávamos ter. Cheguei agora da padaria, onde comi o café da manhã, às 4h da tarde.
O calor aqui é incomensurável, e nem suas vestes brancas dariam conta. A terra não é vermelho-barro como em nossa casa, é amarelo argila, que gruda nas dobras do pé, secam e só saem com água bem quente. Ainda cozinho, mas agora só peixes. Você tem que conhecer o céu daqui. Ele é longo... muito longo. Aqui eu comecei a entender o que são os anos. Um dia conversamos sobre isso. Você adoraria também as bicicletas. Gaivotas. Lembro ainda das suas gaivotas desenhadas com lápis de cera. Elas ainda estão a�
Eu, de minha parte, não tenho escrito muito. É tudo corrido, você ainda não entende, mas é tudo muito rápido, querida. E essa carta também é para que nossas palavras não acabem sumindo nesse turbilhão todo que é a vida. Você ainda espirra quando acorda? Diga, Aninha, você ainda ouve musicas antes de dormir? O velho que mora aqui embaixo sai uma vez a cada quinze dias pra pescar. Ele é fotógrafo aposentado, morou no Marrocos por muito tempo, e fala mais alto do que você! É, eu também me espantei com isso... Bom, comprei um carro vermelho, como a gente combinava de ter. Ele é antigo, solta muita fumaça mas a pintura está novinha, você iria adorar. Mando uma fotos da minha ultima pescaria. Esse do meu lado é Tito, o fotógrafo e o seu pequeno barco.
Minha filha, desculpe a ausência, mas eu ainda não entendia nossa força. Tive que me ir. Só aqui, do outro lado do atlântico, pude nos medir exatamente. Você é muito nova pra entender isso tudo, mas não pense que eu não te amo. Meu amor é indestrutÃvel. Rezo para que as horas ruins que já fiz você passar não tenham te causado tantas feridas.
Por favor, se tiver paciência e tempo, ligue-me, escreva-me.
Beijo, com vontade de te ver.
P.
-- nianpl@gmail.com
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