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A quem a letra não urge? Considerando essa necessidade da escrita inerente a muitos, cá estão algumas letras que buscam cores como tratamento para dores diversas. |
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e quarenta e sete
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Quando Adalto olhou na lista telefônica o que ele fazia era buscar um telefone de um sobrenome do qual ele não se recordava. Qualquer pessoa comum acharia um tanto estranha a atitude de Adalto.
Entre tantos nomes, porque motivo ficava ele ali, procurando, procurando um telefone que ele jamais encontraria. Jamais. Ele não pensava nessa palavra. Tudo começou em uma noite de sexta-feira. Ele voltava da aula de manutenção de motores caminhando nem lentamente nem rapidamente. Não pensava em nada de especial que porventura merecesse uma consideração aqui. Caminhava sozinho mas nunca fora na realidade um solitário. Mas isso vai mudar.
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depois da aula de manutenção de motores vou até a rodoviária comprar a minha passagem para ir visitar a julinha que de todas é a moça mais linda que já conheci quando terminar a aula serão nove e meia da noite demorarei quarenta minutos para chegar até a rodoviária ali vou enfrentar uma fila de umas quatro pessoas o que corresponde de quinze a dezessete minutos e comprarei o antepenúltimo lugar no ônibus para ouro preto no ônibus das onze e quarenta e gastarei depois sete minutos comendo um pão com margarina na chapa e bebendo um café demasiado forte e amargo e depois desses sete minutos vou até a banca comprar um caderno simples e com pauta para escrever essas notas que alguém lê nesse momento
pura e simplesmente para evitar antecipar o pensamento em direção a julinha não vou pensar nela nesse momento vou continuar escrevendo porque daqui a quatro minutos o bico do menino envolto nos braços da mãe dormida vai cair no chão e ele vai chorar e ficarei bastante irritado com o choro o que será ótimo pois deixarei de pensar em julinha e perceberei ao olhar ao relógio da rodoviária que se passaram apenas três minutos desde que o bico caÃra tempo que me parece demasiado longo e tão distante do numero três que é tão pequeno. Agora são onze e vinte e oito e julinha estará deitada em sua cama de camisola lilás escrevendo em seu diário que ficou muito feliz com os lÃrios amarelos que recebeu
de seu amigo mário as flores cheiravam bem mas na verdade ela não entendia porque ele as entregou com tanto pudor entregou as flores e fingiu soar o telefone e não voltou mais. Nesse exato momento onze e meia julinha pensa no mário e eu penso em julinha e no relógio de pulso que perdi hoje à s nove e vinte e três da manhã quando tropecei em um buquê de rosas ninguém tropeça em um buquê de lÃrios só eu e ninguém nessa rodoviária quer ver julinha mais do que eu.
-- Camilla Felicori gosta muito de cores. camilla.felicori@gmail.com
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