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Oito Bits
Cristiano Kolling
"Liga. Não deu? Assopra. Aperta start." Games vistos muito além de pixels e bytes. Histórias, curiosidades e análises mais detalhadas dos jogos e consoles e de sua influência na nossa vida.

O Início de Tudo - parte II

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Aquela sensação é indescritível. Uma mistura de tudo o que passamos esperando por aquele videogame. A humilhação na escola, os sacrifícios prometidos, tudo enfim foi recompensado. Agora nada mais está entre nós e nosso videogame querido.

Será?

Todos olham para a embalagem aberta: é hora de montar. Mas como?

Há fios de diversos tipos. Da fonte, dos controles,cabo av ou rf..."Não deve ser difícil", pensamos.

Aí começam os problemas, típicos dos marinheiros de primeira viagem.

- o videogame só tem cabo AV e sua velha tv é em RF;
- o videogame tem a fonte com outra voltagem;
- o videogame é ntsc e a tv é pal-m, deixando a imagem em preto-branco;
- o videogame está ligado em RF mas não está sintonizado corretamente;
- o videogame veio sem jogos, é sábado à noite e para alugar algo, só na segunda-feira.

Momentos de desespero. Esperamos tanto e agora não funciona! Só acontece com a gente.

Após duas horas de tv virada, comida esfriando e fios a perder de vista, surge a primeira imagem na tv. "FUNCIONOU", dizem em um grito uníssono, o dono do aparelho, seus irmãos e primos.

Nessa hora, há duas possíveis cenas:

1) Gritaria geral, brigas, empurra-empurra, choro. Todos querem jogar primeiro, o caos é total.

2) Silêncio total e absoluto. As crianças nunca estiveram tão quietas. Quando um adulto resolve verificar, vê aquele bando de meninos zumbificados pela imagem na na tv, enquanto um deles (que está jogando) se contorce durante o manejo do joystick, como se estivesse possuído por alguma entidade.

Passam-se uma, duas, três, quatro horas. Todos já foram embora e ainda estamos ali, sentados na mesma posição, sem comer, sem ir ao banheiro, sem nada. Não sentimos mais as nossas pernas, mas isso não importa porque nem percebemos.

"Filho, hora de desligar", mamãe diz. "O mocinho está cansado, ele precisa ir dormir também". Ingênuos, acreditávamos. Mas nossos pais já não aguentavam mais aquele barulhinho de tiros digitais.

Assim se encerra a primeira noite. Intensa, emotiva, inesquecível. Vamos dormir, loucos para acordar logo e jogar de novo. Os dias que se seguem também são muito divertidos, mas a primeira noite nunca se esquece. A partir de então, nossa vida passa a ser recheada de aventuras e peripécias dentro e fora da tela do jogo, mas isso é assunto para um outro texto.

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Cristiano Kolling é produtor editorial e nutre uma paixão platônica por Mrs. Pac Man.
cristianokolling@gmail.com

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