O Preço do Amanhã


Nossa avaliação

[xrr rating=4.5/5]

In Time (2011)
In Time poster Direção: Andrew Niccol
Elenco: Justin Timberlake, Olivia Wilde, Shyloh Oostwald, Johnny Galecki


“Tempo é dinheiro”. No caso do mundo sci-fi de “O Preço do Amanhã”, a expressão popular ganha um sentido bem mais literal. Em um futuro não muito distante, seres humanos são geneticamente projetados para pararem de envelhecer aos 25 anos de idade. Com a completa erradicação das doenças, isso quer dizer que todos são potencialmente imortais… em teoria. Porque na prática, o planeta não pode sustentar uma população em aumento constante, o que significa que alguém precisa morrer.

Assim, cada pessoa tem um cronômetro bioluminescente implantado no braço direito quando nasce, marcando um ano restante. Quando completa 25 anos, a contagem regressiva começa e a pessoa precisa ralar para ganhar mais tempo. E, como tempo literalmente é dinheiro, os dias e meses restantes vão sendo gastos com ligações telefônicas (1 minuto), cafezinhos (5 minutos), e passagens de ônibus (2 horas!).

É aí que entra Will Salas, interpretado por Justin Timberlake. O herói é um habitante do gueto, onde as pessoas vivem “um dia de cada vez” – ou seja, precisam ralar a cada dia para ganhar mais 24 horas – e acaba conhecendo o ricaço Henry Hamilton, que aparece no bairro pobre com mais de 1 século pra gastar no braço. Só que Hamilton está cansado de viver, resolve se matar e deixa a “herança” para Will… que irá usá-la para se vingar das injustiças extremas da sociedade vigente.

“O Preço do Amanhã” marca o retorno de Andrew Niccol, diretor/roteirista do perfeito “Gattaca”, à ficção científica. Como toda boa estória de sci-fi, o filme pega um conceito fantástico baseado em um possível avanço da ciência e extrapola uma sociedade, costumes e conflitos a partir dele. O mundo de Will Salas, com seus “fusos horários” – zonas que discriminam habitantes pela sua riqueza e cobram caro para permitir a entrada – é um mundo cruel e terrivelmente injusto. Mas o pior de tudo é que também é extremamente familiar.

Por sorte ou um planejamento bem inspirado, o filme estreia no Brasil na semana para a qual a ONU havia estimado o nascimento do habitante número 7 bilhões do planeta, e as discussões sobre superpopulação estarão na boca de todos. Podemos até pensar que a solução aplicada no futuro imaginado por Niccols seja drástica demais, mas se pensarmos direito, notaremos que é praticamente a mesma solução que usamos hoje, a do capitalismo selvagem ancorado em um discurso do darwinismo social (que, digamos, é tão equivocado quanto as piores fantasias criacionistas).

Em um mundo tão desigual, Salas segue o único caminho possível: com a ajuda de Sylvia (interpretada pela graciosa Amanda Seyfried), herdeira da fortuna Weis (que vale 1 milhão de anos), ele embarca em uma cruzada a la Robin Hood (ou talvez, Bonnie e Clyde) para redistribuir melhor o tempo. Nesse sentido, “O Preço do Amanhã” é talvez um dos filmes mais subversivos que você verá este ano. Vá assisti-lo antes que as autoridades proíbam!

Se o filme tem um problema, ele reside no fato de não dedicar tempo além do mínimo para conferir profundidade aos personagens, que são em sua maioria apenas um pouco mais tridimensionais que clichês ambulantes. Também fica difícil avaliar o trabalho do elenco, quando temos personagens como o “Agente do Tempo” Raymond Leon, um septagenário interpretado por Cillian Murphy, que tem apenas trinta e poucos anos. Como incorporar um personagem de setenta, noventa ou cento e tantos anos, alguém experiente e confiante, mas cansado da vida, mas sem nenhuma das debilidades físicas que normalmente associamos à velhice? Assim como os atores não têm uma base a partir da qual trabalhar, também não temos uma referência para julgar a sua atuação.

Além disso, esta é certamente uma obra muito menos sutil do que “Gattaca”. Ainda assim, Niccols cria uma história quase sem falhas e transforma-a em um dos filmes mais tensos do ano. O velho truque da contagem regressiva, que havia perdido seu impacto dramático com a proliferação de mocinhos capazes de desarmar a bomba no último segundo, volta com força total. Em “O Preço do Amanhã”, “zero” significa a morte e não há como parar o cronômetro.

Você irá sair do cinema grato por nosso mundo não ser tão cruel quanto o do filme. Mas preste atenção e verá que a diferença é bem menor do que parece.


3 respostas para “O Preço do Amanhã”

  1. Lamentei muito não ter visto este filme no cinema – falta de tempo – e agora, acabando de assisti-lo em casa, de graça, me vejo em um estranho paradoxo: se por um lado me dei bem ao economizar R$ 20,00, o que é ótimo, não posso deixar de pensar que joguei no lixo algo mais valioso, meu tempo. E perdoem os trocadilhos, são inevitáveis ao comentar uns dos piores filmes do ano.

    Quando assisti ao trailer do filme “O Preço do Amanhã” imaginei como os diferentes aspectos da ideia que permeia o filme – o tempo substitui o dinheiro – poderiam ser mostrados. Ao ler esta crítica e descobrir que é o mesmo diretor do excelente Gattaca, minhas expectativas aumentaram ainda mais. Ledo engano. “O Preço do Amanhã” é horrível, mas ensina duas importantes lições: 1. nenhuma ideia é boa o bastante que não possa ser estragada; 2. muito cuidado ao gastar seu tempo no cinema.

    Tão subversivo como vestir uma camiseta (da Lacoste) com a foto do Che ou como turistas visitando uma favela ou ainda como Luciano Huck construindo casas, o filme trata a questão da pobreza e do capitalismo de maneira tão superficial que crianças de 10 anos se sentiriam desapontadas. Não é a toa que a heroína, ou melhor, a “mocinha”, é uma patricinha mimada em busca de emoção!

    E, Filipe, como falar que o filme não tem falhas? O filme tem tantas falhas que seria uma perda de tempo apontá-las. Mas, vamos lá: a facilidade de transferência de tempo é ridícula, o mundo, mesmo séculos no futuro, parece que só evoluiu na questão do tempo. Os personagens são unidimensionais, a trama é risível, os diálogos são piores que os de Crepúsculo, o casal se apaixona em um dia… O personagem Will, que nunca havia entrado em um carro, dirige como se estivesse em “Velozes e Furiosos”; Sylvia, na primeira vez que pega em uma arma, atira como em Matrix… Além disso, a “revolução” é feita com o casal armado com um revólver! O filme erra até em falar de Darwin, que nunca escreveu sobre sobrevivência dos mais fortes (e sim dos mais adaptados).

    E qual é a tensão do filme? Quem temeu a morte dos protagonistas depois de tantos absurdos? A única tensão e preocupação com o tempo é a do público: quanto tempo falta para essa porcaria acabar? tic-tac, tic-tac, tic-tac…

  2. esqueceram de avisar ao cara acima que o filme é de ficção !!!

    Ficção é algo que foge da realidade

    facil bater em um filme de ficção !!! voce demonstrou ter boa observancia para criticar um filme de ficção

    mesma coisa de manda alguem que não saiba nadar pular no rio

    bater em cachorro morto é facil meu amigo !!!

    queria ver vc criar um filme de ficção ?? tem essa capacidade ?? poderoso Juarez

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