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E então, afinal, o que fazer com a velocidade da luz?

Suporte: cinema, vídeo...ou celular?

por Rodrigo Campanella

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Quem poderia escrever esse texto é o jornalista que se dedicou a estudar, meses a fio, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, buscando encontrar o fio da meada de um mundo atual tão móvel e sem referências absolutas que acabou virando água – modernidade líquida, diz Bauman.

Mas poderia escrever também o entusiasta da tecnologia que sabe, lá no fundo, que o britânico Douglas Adams, aquele do Guia do Mochileiro, é que tinha razão quando defendia que é preciso tentar parar de escapar do progresso tecnológico para, enfim, aprender o que fazer com ele.

Mas quem escreve, com esses dois a tiracolo aqui no teclado, é o cinéfilo de cinema e vídeo, crítico por paixão e opção, que se viu na coletiva de apresentação do “Telemig Celular arte.mov – Festival Internacional de Arte em Mídias Móveis†diante de uma pergunta incômoda e recorrente: e então, o que fazer com a velocidade da luz?

É essa a pergunta que persiste, ao fundo, na mostra competitiva de vídeos e nas palestras que compõe o festival, que vai de seis a oito de outubro no Conservatório da UFMG (Av. Afonso Pena, 1534). À tona, a intenção do arte.mov é mais prática e também bastante útil: responder para um público cada vez maior que dá para assistir, distribuir e, principalmente, fazer vídeos usando telefones celulares.


Giselle Beiguelman, artista e professora, vem para o festival
com palestra e retrospectiva de trabalhos

É a partir do aparelhinho, difundido até cansar no Brasil, que a discussão se estende para outras formas de comunicação de dados (o bluetooth, o wap) e de arte (videoarte para celulares, instalações de arte que podem ser modificadas por sms ou email).

“Nossa proposta não é usar o evento para comercializar vídeos, mas é expandir tanto a produção quanto a difusão desse cinema em formato mínimo, especialmente aqui em Minasâ€. A afirmação vinha de Marcos Barreto, gerente de Desenvolvimento Cultural da Telemig, na coletiva de divulgação do evento, semana passada. Junto, a notícia de que os trabalhos selecionados para o arte.mov e os vídeos dos workshops de produção para mídias móveis, que percorreram Minas nos últimos meses, estarão disponíveis para download no site da empresa. Os primeiros mil downloads do site não terão custo algum e após isso será cobrado apenas o tráfego de dados, sem custos pelo conteúdo em si.

Cinema barato (pra fazer também)

Uma das possibilidades mais interessantes desse cinema em formato mínimo é o custo quase nulo de produção: com um celular capaz de gravar vídeos e um programa de edição, tudo está pronto. Já há aparelhos de telefonia que têm, neles próprios, recursos para editar os vídeos. A distribuição acaba sendo tão fácil quanto – basta enviar diretamente para outros aparelhos ou sites na internet.

A proposta do festival e da empresa ao divulgar esse tipo de produção poderia ficar restrita apenas à condição de quebra-galho para cineastas em busca de um suporte mais reconhecido (e caro). Mas, assistindo alguns vídeos feitos nessa técnica, a arte para mídia móvel prova por frame a + frame b que tem condições de se desenvolver sozinha, e muito bem. Palmtops e similares também entram nessa roda, tanto no lado ‘exibição’ quanto no ‘produção’.

Quem ficou curioso, vai ter a oportunidade de assistir a um pouco desse material projetado na mostra competitiva do festival, com trabalhos de vários estados brasileiros. Lá estarão exibidos os curtas no mesmo formato em que foram produzidos – já que um celular é capaz de exibir não só os vídeos feitos nele próprio mas qualquer outro audiovisual convertido para o formato. É nesse espaço que o cel aparece como campo privilegiado para a distribuição de curtas-metragens, mesmo aqueles em película.

Mas, no campo da produção via celulares, o excelente “Dead Pixelâ€, de Cristiane Fariah, Leonardo Arantes e Vitor Augusto e o bom “Bolotinhazinhasâ€, produzido em um workshop, tiram qualquer dúvida sobre as possibilidades que o novo formato traz. Fica até uma pergunta: será que é nesse formato-pílula que alguns curtas conceituais que resultam pedantes na tela grande podem encontrar um lugar ideal para serem compreendidos – e desfrutados?


A simpática cara da revista do Arte.Mov

Sobre aquela pergunta acerca da velocidade da luz, lá em cima, explica-se: o cinema, há muito tempo, já aprendeu a explorar a mansidão das imagens e com elas criar um tempo próprio, onde o espectador é levado por inteiro. De “Carmen de Godard†a “Menina de Ouroâ€, de “Da Janela do Meu Quarto†a “Sobre Meninos e Lobosâ€, o cinema dilata o relógio e faz suspender o tempo.

Por outro lado, cada vez mais as imagens são lançadas no acelerador. O corte se torna rápido, a câmera corre para um canto, o som explode – num vídeo de apenas dois minutos ou num filme de quase duas horas . E vem essa dúvida persistente de como lidar, e o que explorar, diante de um audiovisual em que o arremesso das imagens (e dos formatos) se afunila na direção da fração de segundo. É em torno disso que o arte.mov, não explicitamente, se movimenta – dessas imagens rápidas, líquidas, mínimas, mas ainda potentes. Exatamente como aquelas do curta “Tchau, paiâ€, de Ricardo Machado e Lívia Izar, que fecha o primeiro dia de competitiva.

Essa etapa do projeto para mídias móveis se completa com uma revista eletrônica (www.artemov.net/revista), já na quarta edição. E, tanto aqui quanto lá, de modos diferentes, segue-se perguntando e produzindo uma resposta para o que fazer, enfim, afinal, com essa sempre recém-descoberta velocidade da luz.

+ : Veja a programação completa AQUI

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