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Ode à estranheza

Sonic Youth ao vivo

por Carol Macedo

Fotos: Divulgação

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Kim Gordon: baixista e dançarina solitária

O Sonic Youth ama a estranheza. Fãs aprendem isso na lição de número 1. Então como estranhar o fato de, ao contrário do Flaming Lips, a banda se apresentar sem compromisso algum de fazer as pessoas cantarem junto? Pois é. Foi assim o show do quinteto nova-iorquino em São Paulo: sem concessões. Sem modernices, sem “te amo, Brasil!â€.

Na estrada há mais de 20 anos, a banda optou por um repertório em que álbuns como "Washing Machine" (1998) e "Dirty" (1995) não tiveram muito espaço. Aparentemente, ninguém se incomodou. Vez ou outra se ouvia pedidos solitários de “Diamond Seeeeea!†ou “Sugar Kaaane!â€. Foi Sonic Nurse (2004) o mote da apresentação. Não é novidade para ninguém que, quando em turnê, uma banda costuma privilegiar canções de seu mais recente CD. Entre os presentes, poucos pareciam conhecê-lo, mas isso só fez o show ser mais reflexivo, quase hipnótico.

Essa não foi a primeira vez do Sonic Youth no país. Em 2000, eles fizeram um show memorável dentro da programação do extinto Free Jazz. Essa sim foi uma exibição mais empolgante e intimista, repleta de hits e com extensa duração.

Se no show de outrora o público pôde conferir “100%†e “Kool thingâ€, no de agora teve "I Love You Golden Blue" - abrindo a noite – “Moteâ€, “Drunken Butterfly†(com Kim Gordon, a balzaquiana mais sexy de todo o festival, dançando sozinha), “Patterng Recognitionâ€, “Schizophreniaâ€, “Stalker†e, no bis, “Teenage Riotâ€. Miss Gordon e seu companheiro de guitarras Thurston Moore se alternavam nos vocais, ela com a mesma voz penetrante de sempre e ele com cara de adolescente. Ainda hoje.


Antes da barulheira: pausa para troca de instrumentos.

Já quase no fim e talvez hipnotizado pela música, um dos cinegrafistas “colou†a câmera em Kim Gordon. Assim de pertinho mesmo. Foi dobrando o joelho, dobrando, dobrando, se curvando para trás. Aí o moço atrevido foi ao chão, empurrado pela loira. Olhares incrédulos, gritinhos de “uhu!â€. A mesma mão que o fez cair ofereceu ajuda para levantar. Kim Gordon mostrou quem manda ali, talvez incomodada com uma certa invasão ao palco. Bem antes, nas duas primeiras músicas a que têm acesso garantido os veículos de comunicação, profissionais da área fizeram muito feio na frente do público. Literalmente, na frente deles. Em bando, jornalistas, cinegrafistas e voyeurs (devidamente credenciados) ficaram em pé, tampando a visão de todos. Aí não teve jeito. “Pedidos†de licença pouco gentis e aos berros, arremesso de garrafinhas d’água ou quaisquer objetos que estivessem à mão. A imprensa viveu o momento Carlinhos Brown no Rock in Rio III.

O show terminou com uma imagem linda. Todos os integrantes estáticos, cada qual com seu instrumento, durante meia dúzia de minutos de puro noise. Barulho de juventude sônica. Microfonia hipnótica.

Sem hits, sem conversinhas diplomáticas com a platéia e mesmo sem aqueeele entusiasmo, Kim Gordon, Thurston Moore, Jim O’Rourke, Lee Ranaldo e Steve Shelley permanecem sendo uma das bandas mais inventivas e relevantes do roque. E ponto

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