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#180808 - Murder Inc.

por Rodrigo Campanella

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A tentativa de ânimo de apresentadores, comentaristas e amigos diante da televisão não consegue esconder nem a pontinha do fato de que, no Brasil, a medalha é o único diploma aceitável, e diplomas são necessários.

Caiu? Não vale. Tropeçou? É horrível. Campeão mundial? Mas devia é ter ganho aqui. Competição que não passa na televisão e nem aparece com destaque no jornal é imediatamente invalidada. Além de ser técnico de futebol, grande parte dos brasileiros acumulou o cargo de técnico amador de atletismo e ginástica nos últimos dias.

Provavelmente devido ao excesso de trabalho (e, para brasileiros diante da televisão, trabalho noturno) apresentadores e grande público se entregaram a duas modalidades do grande esporte nacional, o chute ao corpo caído. Apresentadores tentavam simular que está tudo bem, com direito a psicólogo avaliando Diego Hipólito e Daiane dos Santos, mas eles próprios tentavam se convencer de que perder a medalha não é tão ruim assim, aparentando a certeza interior de que os livros de história vão se esquecer desses que tentaram tanto e não levaram a rodela de metal.

Sem câmeras pela frente, e também sem necessidade de emulação, o público pode xingar à vontade os brasileiros que chegaram lá e não viraram ouro ou prata. Engraçado como aos comentaristas e apresentadores da telinha é que parece ter sido entregue esse fardo duro de simular, nacionalmente, que deixar de ganhar medalhas não é o fim do mundo ou algo punível com cadeia. E digo tudo isso de dentro do sistema, sou brasileiro criado diante desse mesmo pensamento e televisão, com razoável dificuldade de aceitar que ser um top-8 ou top-4 é algo muito válido. Na cabeça, sempre esse pensamento tacanho do que dirão os livros de História.

No meio disso, melhor de tudo foi acompanhar Helena Ysinbayeva (esses nomes russos belos e difíceis) cravado 5,05 no salto com vara. É medalha da Rússia, mas de uma beleza mundial. Como Jade na trave, por que não?

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