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Kalashnicov

por Rodrigo Campanella

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(Dir.:Carlos Magno e Francisco de Paula. Brasil, 2006, vídeo)

“Eu sobrevivi pela verticalidade intelectualâ€. A frase mais contundente de toda a 8ª mostra nacional do festival marca exatamente o ponto em que “Kalashnicov†deixa de lado as meias palavras e passa a construir (construir, não só exibir) na tela a história de um massacre pessoal transformado em forma de expressão e de pensamento sobre essa estranha casa de espelhos chamada Cinema.

Quem relata a história é o próprio diretor, Carlos Magno, enquanto letreiros pela tela exibem trechos do que poderia ser um manual mainstream de como fazer cinema . Duas das frases dizem algo como “uma imagem deve estar logicamente ligada à anterior e à posterior. O que não segue esse padrão não pode ser considerado cinemaâ€.

Essas palavras, junto das declarações que ele faz diante das câmera, derrubam qualquer fortaleza emocional. Está ali na tela alguém que sabe tão bem o cinema que faz (obsessivamente, neuroticamente, como ele mesmo admitiu na cerimônia de premiação), com um objetivo tão justo que não dá para conter um longo aperto na garganta quando a luz acende.

Contar mais estraga o impacto do filme (possivelmente já falei demais até...), talvez o exemplo mais bem-acabado desse festival do que pode ser um filme experimental capaz de provocar diálogo com quem assiste. Ao mesmo tempo, faz pensar que um filme completamente hermético, que fecha seu sentido para o público, não é necessariamente poesia, e pode ser muito uma forma de proteção de quem realiza. Kalashnikov é, a seu modo, um filme-manifesto que acaba funcionando como rifle “do bemâ€.

Espectadores de qualquer noticiário conhecem o Kalashnicov como AK-47. O rifle, informa o curta, custa o preço de uma câmera digital, que também atira, no caso imagens em uma fita. “Kalashnicovâ€, o curta, desce fogo contra o cinema experimental frio, contra a perspectiva de que há um só cinema ‘correto’ e de que o cinema experimental é hermético e ruim enquanto cinema bom é aquele que conta historinha. Acaba provando que a arte pode ser usada como arma de construção de uma vida, comece ela como for. Não à toa, o mineiro Carlos Magno e Chico de Paula saíram do festival com o prêmio de melhor diretor nacional.

PS: O curta foi dirigido por Carlos Magno e Chico de Paula. Por erro do repórter, o texto dava a entender que Kalashnicov tinha sido dirigido apenas pelo primeiro.

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