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De Glauber para Jirges

por Rodrigo Campanella

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(Dir.: André Ristum. Brasil, 2005, 35mm)

Possivelmente, a surpresa mais bonita e inesperada do festival. Dois dias antes, num curta do bacana Christian Caselli, alguém comentava que tinha preguiça dos filmes de Glauber Rocha por conta dos xiitas “fãs de Glauberâ€, gente que acaba colocando o cineasta num pódio tão alto que você se sente com vergonha de sair do filme sem uma tese de mestrado elaborada na cabeça.

Daí que esse “De Glauber para Jirgesâ€, montado em cima da narração de uma carta do cineasta brasileiro para o amigo Jirges Ristum, nos tempos de ditadura, demole com tranqüilidade o muro erguido em torno da figura de Glauber sem perder a ternura, nunquinha. Está lá a criatividade sem controle e combativa de Rocha tanto na obra quanto ao enxergar a vida no Brasil, num filme que consegue carimbar lado a lado “sensível†e “de machoâ€.

É um filme masculino com maiúscula, e doce. É praticamente apenas Glauber quem fala, na voz do diretor André Ristum: desfia planos para futuras obras, comenta o mulherio carioca (“As brasileiras trepam gostoso e sem esperar compromissoâ€) e se debruça em intimidades de amigo sobre documentos esquecidos em Roma e uma possível briga com Ristum. Nas imagens, Eryk Rocha monta um verdadeiro painel sentimental que une filmes caseiros de Glauber, fotografias e imagens variadas da Itália e do Rio.

Assistindo pela primeira vez o susto é grande de ver como tudo flui tão bem, sem cair em análises da obra ou adoração pura. Escrevendo hoje sobre o filme, ele aparece na cabeça como um grande bloco emoções montado na tela, dando a impressão de que quem assistiu passou alguns minutos mergulhado no inconsciente coletivo visual brasileiro dos anos 60. É uma tremenda viagem e um amigo de quem eu esperava reclamações após o filme comentava, mais assustado do que eu, que foi o melhor curta que ele viu na vida.

André Ristum, o diretor, é filho de Jirges e chamou Eryk, filho de Glauber, para a montagem. O resultado é, sim, uma homenagem, mas muito mais aos homens por trás dos livros de cinema do que às obras na frente das telas. Nesse ciclo, é o próprio curta que faz cinema tão bonito e emocionado. Independente do que venha a ser o futuro, dá a sensação boa de um ciclo que se fecha em outro que se abre.

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