Go home, Yankees!
09.06.10
por Daniel Oliveira
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Ao sul da fronteira
(South of the border, EUA, 2009)
Dir.: Oliver Stone
Com: Hugo Chávez, Lula, Néstor Kirchner, Cristina Kirchner, Raúl Castro, Evo Morales, Fernando Lugo, Tariq Ali
Princípio Ativo: fanzine de esquerda
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Corrigir um erro com o mesmo erro, só que espelhado. Desde que o mundo é mundo, isso tem sido feito – e nunca resolveu, nem melhorou, nada. Oliver Stone, o último a incorrer nesse...erro, não nos deixa mentir.
“Ao sul da fronteira†foi realizado para mostrar como a cobertura jornalÃstica da FoxNews (e afins) sobre a América Latina é inexata, manipuladora, tendenciosa e superficial. E acabou se tornando um filme inexato, manipulador, tendencioso e superficial – só que no outro extremo do espectro polÃtico.
O objetivo já deixa claro que o longa é direcionado ao público norte-americano e sua conhecida ignorância no que diz respeito a polÃtica externa. Mas a abordagem de Stone é tão tacanha, pelega e descaradamente panfletária, que é mais provável que “Ao sul da fronteira†seja um tiro no pé, criando uma visão ainda mais equivocada, negativa e depreciativa dos polÃticos retratados e seus paÃses.
Para nós que somos o “assuntoâ€, o documentário é ainda mais problemático: ou o que se diz ali não é nada de novo, ou é tão superficial que dá vergonha de assistir – ou as duas coisas. Entrevistando uma série de presidentes latinos, Stone se recusa a fazer as perguntas difÃceis, apontar incoerências nos seus interlocutores, criticar ou mesmo questionar suas falas.
Encarnando um Michael Moore sem o espÃrito pop nem o humor escrachado, o diretor faz um ensaio (pobre) para provar sua tese de que a América Latina é um paraÃso perdido e seus presidentes são os gênios do futuro (e do presente). Ausente do mÃnimo espÃrito crÃtico, como entrevistador ele acaba sendo um ótimo levantador – erguendo bolas sensacionais para seus “amigos†cortarem.
Metade de “Ao sul da fronteira†é dedicada a Hugo Chávez, um “lÃder†que Stone afirma estar conduzindo uma “revolução bolivarista†por todo o subcontinente. Abraçando um discurso anticolonialista de que a América Latina não precisa da ingerência norte-americana, ele acaba transparecendo a mesma postura paternalista do colonizador que vem aprovar (sem conhecer) o “exotismo†dos governos locais. Sem contar que parece mais interessado em atacar a polÃtica externa do governo Bush, o que torna o documentário fatalmente datado.
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Tecnicamente, o longa edita vários pedaços de noticiários norte-americanos, imitando algo que o The Daily Show with Jon Stewart faz bem melhor. Colocando-se em frente às câmeras, com alguns contraplanos egocêntricos embaraçosos, Stone se desgasta desnecessariamente com um filme bobo, em que ele soa mal informado – e pior, cabo eleitoral. Da próxima vez, o diretor pode seguir a lição de Michael Winterbottom, chamar Naomi Klein – ou qualquer um que realmente entenda do que está falando – e fazer algo relevante, ou que ao menos não seja um desserviço àquilo que está tentando defender.
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