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O lado escuro da matinê

01.07.05

por Daniel Oliveira

9 canções

(Nine songs, Inglaterra, 2004)

Dir.: Michael Winterbottom
Elenco: Kieran O’Brien, Margo Stilley

Princípio Ativo:
Sexo, drogas e rock'n roll

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Aviso: Apesar das bandas e músicas abaixo, esta não é uma resenha musical.

“Mas as nossas desavenças se (sic) acabam no quarto, em cima da camaâ€. Lembra dessa? Era parte de uma música da Beth Guzzo, filha da vovó Mafalda. “Nove cançõesâ€, filme do inglês Michael Winterbottom (A festa nunca termina) tem um pouco desse espírito - é a história de um casal contada através do sexo.

Na verdade, o cineasta inglês narra o relacionamento do inglês Matt e da americana Lisa pela seleção de nove músicas de nove shows a que eles vão no período em que ficam juntos em Londres. Os shows são intercalados com os dois na cama e imagens de Matt na Antártida, para onde ele foi após o fim do namoro.

A música é elemento fundamental do filme e quem já conhece as canções o aproveita bem melhor. São as letras das tais canções que introduzem as diferentes fases do relacionamento. Quando eles se conhecem, o Black Rebel Motorcycle Club canta que “Ela vai salvar a sua almaâ€. A evolução sexual é embalada por “As coisas eram boas quando éramos jovensâ€, refrão do Von Bondies, e outro nada sutil “você não precisa dormir sozinhoâ€, do Elbow. No auge, o Primal Scream manda “eu estava perdido, agora eu me encontrei / eu acredito em você, sem limitesâ€. O declínio começa em “You were the last highâ€, do Dandy Warhols. A mudança dos olhares fica com o Franz Ferdinand em “Jacqueline†e quando não é preciso dizer nada, o instrumental de Michael Nyman em “Nadia†é perfeito. Cíclico, o filme fecha com Black Rebel cantando â€nunca achei que a veria partir / agora ela se foi, o amor queima dentro de mimâ€. As nove canções se completam com “Slow lifeâ€, do Super Furry Animals.

Winterbottom optou pelas câmeras digitais para captar as imagens dos shows sem maiores problemas. Mesmo nas cenas do casal, porém, há belos planos - como na primeira transa, “no escuro†(eles ainda não se conhecem bem), marcada pelo contra-luz. As imagens da Antártida também funcionam, especialmente no final, quando Lisa lê que “um iceberg, ao se separar do continente, não consegue sobreviver mais que dois mesesâ€, metáfora da sua volta para os EUA.

No fim das contas, como o filme só mostra os dois na cama e se agarrando nos shows, acaba difícil se envolver pelo romance. Contar histórias de amor através da música pop não é novidade – Cameron Crowe fez isso em “Singles†e Nick Hornby em “Alta fidelidade†– e a única coisa que Winterbottom acrescenta são o ao vivo e o sexo. O que, na boa, só é imperdível para os indies e tarados.

Frio no filme, só o céu de Londres...

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