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Bye bye emoção

06.09.06

por Daniel Oliveira

O maior amor do mundo

(Brasil, 2006)

Dir.: Carlos Diegues
Elenco: José Wilker, Marco Ricca, Deborah Evelyn, Taís Araújo, Lea Garcia, Sérgio Malheiros, Max Fercondini, Sérgio Britto

Princípio Ativo:
sobra técnica, falta emoção

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José Wilker continua um bom ator, sem muitos maneirismos e com um carisma próprio dele. A trilha de Chico Buarque é bonita como seu compositor. Marco Ricca é um dos melhores atores hoje, no Brasil. Até Taís Araújo está melhor que em qualquer novela.

Com isso em mãos, “O maior amor do mundo†e seu diretor Carlos Diegues conseguiram fazer um filme sem um pingo de emoção. Antônio (Wilker) é um astrofísico nascido no fatídico dia em que o Brasil perdeu a Copa de 1950 para o Uruguai. Sua vida, que atravessa a segunda metade do século XX no Brasil e é acompanhada por uma sombra de culpa, está prestes a encontrar seu fim, vítima de um tumor incurável. Os problemas começam: é sabido, desde o começo, que Antônio vai morrer – e, sinceramente, você não está nem aí se ele cair duro a qualquer momento.

Diegues enjaula a performance de Wilker em um personagem que é incapaz de demonstrar sentimentos ou reações humanas. Na busca por suas verdadeiras origens, já que foi adotado por um maestro (Ricca) e sua esposa (Deborah Evelyn), Antônio vai parar em uma favela carioca – onde encontra (óbvio) miséria, violência, crianças traficando, blá, blá blá.

O maior engodo do filme está aí. Diegues confunde os sentimentos do personagem com sua própria culpa. O cineasta parece fazer uma mea culpa pela fotografia, pela direção de arte bem cuidada, por gastar dinheiro com cinema em um país com tantos problemas sociais. E isso é mais constrangedor que a cena de sexo (outro clichê do cinema brazuca) entre os personagens de Wilker e Araújo. O que, admita-se: não é um erro só dele, mas de metade da cinematografia nacional.

Perdendo tempo com o que “Cidade de Deus†já fez bem melhor (apelo ao cinema nacional: passe para a próxima fase), “O maior amor do mundo†não explora seus trunfos. O bom trabalho de Ricca quase transborda no pouco espaço que a trama novelesca lhe reserva. Assim como Luciana, mulher vivida por Taís Araújo - mulher mesmo, já que o roteiro não lhe dá nenhum background ou profundidade.

A trama utiliza o recurso de flashbacks do passado para completar o presente de “Zuzu Angelâ€. Mas, ao contrário desse último, não tem uma história pungente para arrebatar o espectador. E cai na sua própria armadilha de contrapor “erudito e popular†– Antônio saiu da favela para um ambiente freqüentado por músicos clássicos – em um cinema que ensaia o novelesco, mas acaba pouco popular. Salvaria a direção de Diegues, mas nela sobra técnica e falta emoção. E, apesar de eu gostar muito de “Bye bye Brasilâ€, esse é o mesmo defeito dos últimos trabalhos do cineasta, “Orfeu†e “Deus é brasileiroâ€.

Wilker pára e pensa: “Eu merecia um filme melhor, não?â€

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