Busca

»»

Cadastro



»» enviar

O gatinho ou a Mona Lisa?

25.01.07

por Daniel Oliveira

Perfume - A história de um assassino

(Perfume: History of a murderer, Alemanha/França/Espanha, 2006)

Dir.: Tom Tykwer
Elenco: Ben Whishaw, Dustin Hoffman, Rachel Hurd-wood, Alan Rickman, John Hurt

Princípio Ativo:
perfeição

receite essa matéria para um amigo

Toda arte tem um pouco de:

Obsessão

Jean Baptiste Grenouille (Whishaw) tem uma obsessão: o cheiro perfeito. Tom Tykwer tem uma obsessão, desde “Corra, Lola, corra†e “Paraísoâ€: a harmonia perfeita entre forma e conteúdo. Em “Perfume – A história de um assassinoâ€, ambos atingem seu objetivo.

Tesão

Para concretizar seu propósito, Grenouille assassina belas moças na Paris do século XVIII. Assim: quantos cachorrinhos você deixaria o Charlie Kaufman matar, se ele precisasse disso para escrever “Brilho eterno� O roteiro é baseado em um livro do alemão Patrick Süskind que, bem, imaginou a maior orgia européia do século XVIII.

Loucura

Grenouille tem um olfato que identifica o que acontece a milhas de distância. Já se perguntou como o Superman consegue dormir com a super-audição? “Perfume†imagina isso.

Para realizar seu filme, Tykwer teria que transmitir a sensação do cheiro de forma audiovisual. Em uma cena com o perfumista Baldini (Hoffman), ele consegue.

Beleza

A primeira vez em que Baldini assiste a Grenouille trabalhar, ele nem pisca. Nem o público. A trilha sonora embala um artista em plena ação. A fotografia, direção de arte e edição de “Perfume†são impecáveis. Desde a cena da queda das folhas vermelho-sangue, antecipando a carnificina por vir, seria impossível citar todos os preciosismos de Tykwer. Em “Perfumeâ€, até os cortes rápidos se justificam, fazendo de cada plano uma das doses que fazem o produto-título.

Questionamento

O filme retrata uma Europa suja, cheia de pessoas decrépitas, ratos, entranhas e doenças. É nesse contexto que a dicotomia arte-vida de Süskind grita: o que vale mais: uma realidade deprimente ou uma arte sublime?

Emoção

Grenouille descobre que ele mesmo não tem cheiro. E, para ele, o cheiro é a alma das pessoas. Para provar ao mundo que ele não é um ninguém, ele se lança em sua empreitada assassina.

Não bastasse o visual de “Perfumeâ€, os atores também não deixam a desejar. Em momento nenhum, você duvida das habilidades insanas do protagonista interpretado por Ben Whishaw. Dustin Hoffman continua sua saga de bons coadjuvantes, como o dúbio Baldini. E Tykwer arruma espaço até mesmo para a carranca constante de Alan Rickman.

Polêmica

Grenouille deve ser julgado pelo que fez. Mas o espectador não tem certeza se ele é insano, cruel, amoral ou simplesmente perfeccionista. No fim das contas, “Perfume†é um filme que parece abrir mão de ser um grande filme para ser uma obra de arte. Para ser vista em uma sala escura, com projeção e som perfeitos. Para que, assim como Grenouille, descubramos que, mesmo à arte mais perfeita, sempre faltará algo: vida.

O ótimo Whishaw e o truque de Tykwer: para representar belos cheiros, belas mulheres.

» leia/escreva comentários (12)