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Donos-de-casa realmente desesperados

08.02.07

por Daniel Oliveira

Pecados íntimos

(Little children, EUA, 2006)

Dir.: Todd Field
Elenco: Kate Winslet, Patrick Wilson, Jennifer Connelly, Jackie Earle Haley, Gregg Edelman, Noah Emmerich, Phyllis Somerville

Princípio Ativo:
adolescência tardia

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Não é à toa que, logo no início do filme, Sarah (Winslet) está prostrada no chão, subjugada por sua filha e “abaixo†das outras mães do playground. Sarah é uma little children. Ou melhor: sua imaturidade emocional - a mesma dos demais personagens de “Pecados íntimos†– é a de uma adolescente colegial.

Também não é por acaso que a seqüência em que as mães ficam nervosas diante do pai gostosão, que elas chamam de “Rei do baile†(Wilson, de “Meninamá.comâ€), parece uma paródia melhorada de um filme adolescente. Ao apostar que se aproxima dele e consegue seu telefone, Sarah nada mais é que o patinho feio que quer ir ao baile com o bonitão no final do filme. Aliás, o apelido de “Rei do baile†para Brad ( ;) ) não é nem um pouco à toa.

O diretor Todd Field (Entre quatro paredes), com base no livro de Tom Perrotta, segue o estudo da fascinação norte-americana pelo high school. “Pecados íntimos†retrata o vazio desses personagens que, atropelados por um casamento, uma gravidez, e outras responsabilidades para as quais não estão prontos, ainda continuam condicionados pelos sonhos colegiais não-realizados.

Esse descompasso emocional é filmado com sutileza ácida por Field, nos seus momentos mais explícitos. Na masturbação frente à ninfeta colegial da Internet. No sexo selvagem na lavanderia, durante a soneca vespertina das crianças. (Cronenberg foi mais direto e filmou o sexo entre dois adultos com fantasias colegiais, de uma vez, tempos atrás). E nos momentos íntimos, que são os planos mais sublimes do longa. Quando a ótima Winslet interpreta a fascinação de Sarah (e seu esmalte azul) diante do bronzeado dela no espelho. E na patética e grandiosa seqüência do touchdown de Brad.

O roteiro (dos próprios Field e Perrotta) ainda conduz, paralelamente, a história do pedófilo Ronnie (Hayley), temido pelos suburbanos do filme. Só que o ódio e a repulsa que os personagens sentem por ele é, na verdade, uma catarse do ódio e repulsa que sentem por si mesmos e por seus “pecados íntimosâ€, do título nacional – o que é escancarado no policial frustrado Larry.

O entrelaçamento dessas histórias culmina em um suspense desesperador, em que o espectador sofre por não imaginar o que vai acontecer. Ainda mais quando o roteiro passa longe de qualquer clichê. Aliás, é desse final que surge uma esperança para a adolescência eterna, que tem deixado norte-americanos obcecados com o vestido do baile de formatura, com o touchdown decisivo – ou com o ato heróico na guerra do Iraque, a ser retratado em um filme hollywoodiano: O futuro, em algum lugar [ou alguma hora], tem que começar.

O bronzeado adolescente, o olhar vazio: Misery loves company

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