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Países baixos

22.03.07

por Daniel Oliveira

Só Deus sabe

(Sólo Dios sabe, Brasil/México, 2006)

Dir.: Carlos Bolado
Elenco: Alice Braga, Diego Luna, Maria Alves, José Maria Yazpik, Renata Zhaneta

Princípio Ativo:
Turismo superficial

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“Só Deus sabe†começa como um “E sua mãe também†em que as sutilezas e alegorias do segundo foram substituídas pelos simbolismos óbvios de Carlos Bolado - e o parceiro de viagem de Diego Luna é Alice Braga, e não Gael García Bernal. Nenhuma obra-prima, mas soava divertido. Principalmente com “Evil†do Interpol e “Music when the lights go out†do Libertines com menos de meia hora de filme – o que, junto com a boa atuação e a química entre os dois protagonistas conquistou minha simpatia.

O roteiro abusava das “peripécias†do acaso – e não satisfeito, lembrava isso (“eu não te avisei, mas tem um festa linda nessa cidade hojeâ€) ao espectador. Mas havia sacadas interessantes, como quando ele perguntava em espanhol, ela respondia em portunhol e fazia comentários em português. Isso diz muito do entendimento entre os dois personagens. E ele esconder o passaporte dela - uma brasileira, residente nos EUA, presa no México porque acha que perdeu o documento – era algo tão absurdamente absurdo e babaca que eu acreditei que poderia gerar desdobramentos interessantes.

Bem, isso nos primeiros trinta ou quarenta minutos de filme.

Depois, “Só Deus sabe†abraça o capeta, com o perdão do trocadilho. Dolores, personagem de Alice, volta ao Brasil – por mais uma das peripécias desnecessárias do roteiro - e entra numas de candomblé e “encontrar suas reais origensâ€. O que é simplesmente uma forma um tanto quanto clichê e muito menos sutil do que ela já vinha fazendo até então no longa.

Não que não seja interessante um filme sobre os sincretismos religiosos brasileiros e a relação de uma jovem cosmopolita com isso. Só que simplesmente isso é outro longa. Outra história - “Só Deus sabe†parece começar de novo quando a trama chega ao Brasil. E o fato de o roteiro ter sido escrito pelo próprio Bolado complica bastante as coisas.

O retrato do Candomblé é limitado e se restringe a simbolismos religiosos não muito elaborados. Dolores é a água (purificação), sempre se movendo, sempre mudando. Quando ela decide manter a gravidez, ele enquadra um peixe (fertilidade) no aquário. Longe da universalidade de um Alfonso Cuarón, ou da intimidade de um Sérgio Machado, Bolado filma as crenças mexicanas e brasileiras com uma superficialidade publicitária – reforçando clichês para turistas estrangeiros ávidos por exotismo.

No fim, Luna e Braga ainda me deixam pensando que poderiam ter feito o filme funcionar, não fosse um miolo que desespera o espectador piorando o longa a cada cena. Mas seria fazer o que ele já fez em “E sua mãe tambémâ€, e ela em “Cidade Baixaâ€.

Você não pode ver, mas a cara de brava dela é porque o Gael tá ali do lado dele.

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