Tsotsi, Querô, Dadinho, Pixote...a (H)história se repete
15.06.07
por Mariana Souto
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Infância roubada
(Tsotsi, Ãfrica do Sul / Reino Unido, 2005)
Dir.: Gavin Hood
Elenco: Presley Chweneyagae, Ian Roberts, Jerry Mofokeng, Kenneth Nkosi, Mothusi Magano
Princípio Ativo: Ãfrica, miséria, abandono, de novo
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“Infância Roubada†traz à tona a idéia de crianças condenadas a uma vida de miséria em um continente não só roubado, mas marginalizado, colonizado e abandonado. Fala da Ãfrica longÃnqua, mas poderia perfeitamente falar do Brasil pertinho, e provavelmente da maioria dos paÃses do lado de baixo do Equador.
Tsotsi é um rapaz sul-africano que assalta pessoas no metrô junto com sua gangue. Numa noite, rouba uma mulher enquanto ela abre o portão da garagem, levando seu carro (modalidade de crime bastante pop no Brasil). Ela reage e ele lhe dá um tiro. Mais tarde, percebe que no banco de trás havia um bebê. E numa sucessão de más escolhas, resolve criá-lo numa sacola debaixo da cama em seu barraco da favela.
O contato com o tal bebê remete o personagem à sua própria infância sofrida, à falta da figura materna – que parece ter morrido de Aids – e aos maus tratos do pai alcoólatra. Tsotsi procura uma vizinha que recém pariu para amamentar o bebê e, nos momentos de carinho entre a moça e o neném, vê imagens de sua própria mãe e lembra dos seus anos de inocência – recurso já bem desgastado que pode ser visto também no recente longa nacional “Querôâ€, cujo protagonista, uma espécie de Pixote, tem flashbacks semelhantes.
Tsotsi encontra no bebê uma chance de redenção; a esperança que já não pode ter de seu futuro se deposita na pobre criança rica. O fechamento é previsÃvel, mas não deixa de ser bonito e encerra bem um filme que, a princÃpio, parecia levemente perdido, com personagens à deriva e pouco aprofundados.
Tecnicamente, “Infância Roubada†é bem articulado. A fotografia e a direção de arte são bastante eficientes e espalham dicas do tema que parece pano de fundo mas é tão relevante que, de vez em quando, pula para fora do negativo. No jornal que embrulha o bebê, há um pequeno mapa da Ãfrica e no metrô, outdoors falam de HIV. A trilha sonora é repleta de hip hop, mostrando a influência insistente da cultura norte-americana. As desigualdades sociais ficam evidentes na composição da mansão do casal rico em contraposição com os ambientes sucateados da favela.
Já na parte dramatúrgica, os clichês e a falta de sutilezas incomodam o espectador que espera um filme de arte com a qualidade de um vencedor de Oscar de melhor longa estrangeiro. Não é para tanto. “Central do Brasil†deu azar de ter concorrido no mesmo ano de “A Vida é Belaâ€. Se estivesse na disputa com “Infância roubadaâ€, teria ganhado. Ou pelo menos, deveria.
Tsotsi (no centro, de vermelho) e sua gangue, em momento “pose estilo clipe das Destiny's childâ€.
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