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Piada de deputado

29.02.08

por Daniel Oliveira*

Jogos do poder

(Charlie Wilson’s war, EUA, 2007)

Dir.: Mike Nichols
Elenco: Tom Hanks, Philip Seymour Hoffman, Julia Roberts, Amy Adams, Ned Beatty, Emily Blunt

Princípio Ativo:
inteligência

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Charlie Wilson trabalha no Congresso, mas não é idiota.

“Deixar a URSS enfrentar o Afeganistão, até o dinheiro acabar e eles se cansarem como os EUA no Vietnãâ€, estratégia de uma personagem, soa mais inteligente que a guerra financiada por Wilson. Admita, porém, que levantar US$ 1 bilhão partindo de um orçamento de US$ 5 milhões exige, no mínimo, muita esperteza.

É a edição de John Bloom e Antonia Van Drimellen, parceiros de Nichols desde “Angels in Americaâ€, que não te dá tempo para questionar isso. Acrescente aí o carisma jamestewartiano dado por Tom Hanks à figura de Charlie Wilson e “Jogos do poder†torna quase impossível não admirar as operações escusas empreendidas pelo congressista texano nos anos 80.

A imprensa não sabe, mas ela é idiota.

O caráter controverso de Wilson o torna um dos trabalhos mais interessantes de Hanks, dando ao simpático sujeito comum um lado negro raro em sua filmografia. Ao orquestrar guerras enquanto cheirava cocaína com strippers em jacuzzi’s, ele rende ao menos uma seqüência que pede o perigoso adjetivo ‘genial’, quando Wilson prepara a resposta às críticas da imprensa ao seu comportamento durante um briefing do agente Gust Avrakotos (Hoffman) sobre a atuação da CIA no Afeganistão.

A situação produz ainda uma frase emblemática sobre o universo político. “Deixe a imprensa se preocupar com sexo e drogas. Enquanto isso, eles não vão enxergar um porta-aviões sendo mandado para o Afeganistão na frente delesâ€, dispara Gust, que transforma o dinheiro levantado por Wilson em armas afegãs.

Mike Nichols faz comédia sobre algo sério, mas não te trata como idiota.

A dupla Hanks & Hoffman encabeça um ótimo elenco, que conta também com a sempre boa Amy Adams e o sorriso de Julia Roberts. Nas mãos (ou bocas) deles, as falas do afiado roteiro de Aaron Sorkin (West Wing) ganham um tom farsesco, que dá uma leveza inusitada e bem-vinda ao tópico político do filme e nem deixa você perceber quão longos e ininterruptos os diálogos são.

Nichols é, conhecidamente, um grande diretor de atores, mas o trabalho que ele entrega aqui vai além do comando do elenco, montando suas cenas de forma que não se encontre uma farpa no corte das falas, e negando qualquer ‘plano-panfleto’, ‘cena-moral-da-história’ ou ‘seqüência-mensagem’. A ousadia está na sutileza da abordagem, que sugere os desdobramentos das ações de Wilson somente na cena em que Gust conta uma fábula ao deputado. Nichols coloca o barulho de motores de avião ao fundo – e, para bom espectador, meio BG basta – deixando ao público a opção de condenar ou não seu protagonista. Chamam isso de elegância.

* com edição de Igor Costoli

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