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O pântano

19.11.08

por Daniel Oliveira

Feliz natal

(Brasil, 2008)

Dir.: Selton Mello
Elenco: Leonardo Medeiros, Darlene Glória, Paulo Guarnieri, Lúcio Mauro, Graziella Moretto, Fabrício Reis

Princípio Ativo:
wannabe Lucrecia Martel

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É estranho sair de casa, voltar e, de repente, perceber tudo diferente do que você deixou. Mas é assustador retornar e ver que tudo continua igual – inclusive os fantasmas, as dores, as mágoas não-resolvidas. E é para essa segunda opção que regressa Caio, protagonista de “Feliz natalâ€, estréia de Selton Mello na direção de longa-metragem.

Após alguns anos na cadeia e outros afastado depois que foi solto, ele volta para um natal em família na casa do irmão e encontra tudo que atormenta nossos piores sonhos. Uma mãe alcoólatra, um pai abusivo com uma namorada adolescente, um irmão capacho da esposa, um sobrinho que ele não conhece.

E o pior de tudo: todos em clima de “feliz natalâ€. De certa forma, é essa hipocrisia de final de ano que sufoca seus verdadeiros sentimentos e impede os diálogos realmente necessários. “Feliz natal†é um filme de poucas falas, poucas resoluções e pouquíssimas respostas. O que importa mesmo são os olhares trocados, o incômodo latente e as relações nunca verbalizadas de cada cena.

Selton Mello tem a sorte de contar com um elenco de primeira para tecer essa teia invisível. Leonardo Medeiros empresta a mesma angústia de “Lavoura arcaica†e Não por acaso†ao protagonista Caio. Darlene Glória magnetiza os olhares em todas as suas cenas, como uma mãe que perdeu o controle de tudo, principalmente de si mesma – a seqüência do almoço é aflitivamente representativa dessas reuniões de natal. E Paulo Guarnieri e Lúcio Mauro são familiarmente convincentes em dois papéis silenciosos, rancorosos e até um pouco amargos.

A fotografia, do ótimo Lula Carvalho, cria o clima denso e retrata, em seus altos contrastes, a decrepitude dos personagens. A direção de arte de Renata Pinheiro é outro destaque, principalmente na escolha e decoração da casa – a piscina suja, esverdeada, modorrenta, mas em que todos insistem em nadar, é a melhor imagem daquela família.

Enfim, “Feliz natal†é tecnicamente bem realizado, a edição referenciando o cinema de Arnaldo Jabor dos anos 70 é coerente, mas o longa falha em capturar o espectador emocionalmente. Selton Mello dirige bem os atores, contudo peca num roteiro com muitos personagens e eixos narrativos. As gags dos dois sobrinhos e a Internet, por exemplo, são totalmente deslocadas e dispersivas. Os longos e silenciosos planos vão se tornando cansativos com o passar do tempo – Selton quer ser Lucrecia Martel, mas seu roteiro não tem a densidade necessária. Infelizmente. Mas pode anotar: o rapaz-ex-ator-diretor promete bem mais do que simplesmente fazer a gente rir pedindo pra mulheres gostosas “mostrarem a bundaêâ€.

Mais pílulas:
- A casa de Alice
- Luz silenciosa
- As leis de família
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Vai, Darlene, cheira o ralo e...mostra a bundaê!

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