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Uma verdadeira aula de História – e tão chata quanto

15.03.09

por Cedê Silva

Bela noite para voar

(Brasil, 2009)

Dir.: Zelito Viana
Elenco: José de Abreu, Mariana Ximenes, Marcos Palmeira, Julia Lemmertz, Cássio Scapin

Princípio Ativo:
O mito JK

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Um presidente altamente popular governa o Brasil. Ele é de origem humilde, do interior de um estadozinho provinciano. Realiza um encontro para prefeitos e destaca o papel das mulheres na política. Pede pressa, “muita pressaâ€, para implementar grandes e caros projetos de futuro duvidoso. Fala ainda da necessidade de “acabar com ódios e incompreensõesâ€, de governar com apaziguamentos.

Estamos falando de Juscelino Kubitschek de Oliveira, presidente entre 1956 e 1961 e um dos grandes mitos políticos brasileiros. “Bela Noite para Voarâ€, baseado no livro homônimo de Pedro Rogério Moreira, narra um dia na vida do pé-de-valsa, quando um golpe fictício, orquestrado por alguns militares da Aeronáutica, está prestes a ser realizado.

A trama é uma sucessão de clichês do início ao fim. JK (José de Abreu, até bem convincente soltando “uaisâ€) é um político articulado e espirituoso, que se safa de tudo na lábia. Os diplomatas norte-americanos são loucos paranóicos que acham que a Petrobras é um passo para a implementação do comunismo no país e se entendem em fina sintonia com os militares brasileiros reaças. Ninguém explica o porquê de tanta agitação, já que a Petrobras foi criada três anos antes de Juscelino tomar posse. Já sua vida amorosa inclui uma aventura idílica e juvenil com sua amante, Princesa (Mariana Ximenes), sem maiores conseqüências. Dona Sarah sequer dá as caras no filme.

Como o enredo não rende, o filme vacila entre o suspense do golpe de Estado e o romance de JK e Princesa (não acredito que escrevi esse “nome†de novo), fracassando miseravelmente em ambos os gêneros. Como suspense, funciona como uma versão muito tosca de “Operação Valquíriaâ€. Como romance, diálogos sem inspiração em um fio narrativo sem qualquer obstáculo ou elemento que desperte interesse.

Todo esse vaivém é entrecortado por flashbacks sem qualquer relação com a trama, que funcionam como uma aula de História de 8ª série e tão emocionantes quanto. Desfilam pela tela Carlos Lacerda e Luis Carlos Prestes, aqueles que, quando achávamos que já tinham morrido naquele ponto do currículo, insistiam em reaparecer. Há um Niemeyer cinqüentão e o melhor do filme: Cássio Scapin, o Nino de Castelo Rá-tim-bum, perfeito na pele de Jânio Quadros. Pena que é uma cena só.

Filmado inteiramente no Rio, o longa não ousa uma só tomada da paisagem da época, preferindo as internas no Catete. E não convence nas cenas supostamente passadas “na Pampulhaâ€, em BH. Se você é professor de História e quer uma desculpa esfarrapada para apagar a luz da sala e não dar aula, este é o seu filme.

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Cada presidente tem o Jack Bauer que merece.

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