So Hard to Forget (2010) | |
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Direção: Malu De Martino Elenco: Ana Paula Arósio, Murilo Rosa, Natália Lage, Arieta Corrêa |
Eu estou triste. Muito triste. Só sinto vontade de chorar. E me matar. Estou pensando em ME MATAR. Não quero ficar perto de ninguém. Nem que ninguém seja legal comigo. Eu já disse que estou MUITO triste?
Sabe quando repetir muito uma coisa acaba enfraquecendo o que você quer dizer? Aquela falta de sutileza que dilui o poder do discurso? É basicamente esse o problema de “Como esquecer”. O filme passa muito tempo verbalizando a dor de sua protagonista, sem se dar conta de que pessoas realmente tristes não ostentam seu sentimento, mas tentam mascará-lo, ignorá-lo – e retratar isso é muito mais forte. É a diferença entre uma música da Taylor Swift e uma do Wilco.
O filme da diretora Malu Martino tem muitos paralelos com o “Direito de amar” de Tom Ford. Ambos tratam de um protagonista sofrendo a perda de um parceiro: enquanto George, o professor universitário sessentista de Colin Firth, havia acabado de ficar viúvo, Julia, a professora universitária contemporânea de “Como esquecer”, é abandonada pela namorada.
Ele é perseguido por um aluno apaixonado e decide se matar. Ela é perseguida por uma aluna apaixonada e vai morar em uma casa no subúrbio com o amigo gay (Rosa) e a amiga grávida dele (Lage) que também foi largada pelo namorado. E tanto George quanto Julia são assombrados pelas lembranças de uma paixão, sem a qual a vida simplesmente parece não fazer sentido.
Infelizmente para o #teamcinemanacional, o filme de Martino perde feio na comparação. A diretora cria um Rio de Janeiro incomum e cinza que reflete a depressão de Julia, mas o cinema parece parar aí. “Como esquecer” acaba virando “Direito de amar” sem o estilo de Tom Ford.
As referências literárias carregadas demais são o sintoma da geral falta de sutileza do longa. O roteiro a 12 mãos entrega diálogos que insistem o tempo todo na tristeza abismal dos três roommates e algumas cenas acabam dignas de novela. A atuação caricata de Murilo Rosa como gay afetado (sem nenhuma verossimilhança) não ajuda. E Natália Lage é mal utilizada em uma personagem cuja história é simplesmente abandonada pelo filme em certo ponto.
Sobra Ana Paula Arósio, que encarna Julia de corpo e alma. Assim como Firth em “Direito de amar”, o rosto da atriz traduz todo o desespero da protagonista. Se, a exemplo do filme de Ford, tivéssemos menos ação, mais silêncio e mais foco no trabalho dela, o longa valeria a pena. Não precisava nem ser algo genial como Kieslowski e Binoche em “A liberdade é azul”. Bastava o resto do filme estar à altura da atuação de Arósio e “Como esquecer” seria bem acima da média.