Plantão HQs: Morte no Quarteto Fantástico


Nossa avaliação

“Fantastic Four #587” é uma edição excepcional em vários sentidos. Não porque nela acontece a já anunciada morte de um dos membros do Quarteto Fantástico: na última década hérois e vilões tem batido as botas às dúzias, só pra depois voltar do túmulo como se nada tivesse acontecido.

Não, a edição é especial em parte por todo o esquema de marketing produzido em volta dela: foi lançada em uma terça-feira (quando as HQs geralmente chegam às comic shops americanas na quarta), e vem em uma embalagem especialmente projetada (um nada mórbido saco preto) para impedir que os leitores folheiem a revista antes de comprar e estraguem a surpresa.

Infelizmente, o tiro saiu pela culatra: o golpe publicitário atraiu a atenção da mídia mainstream, que acordou hoje particularmente determinada a sacanear os fãs de quadrinhos, e saiu publicando a identidade do(a) falecido(a) em manchetes de sites que vão da CNN até a Globo.com (então é bem provável que alguém já tenha estragado a surpresa para você). Ao contrário da Globo, no entanto, nós do Pílula não odiamos nossos leitores e somos legais o bastante para avisar: este texto contém SPOILERS! Se preferir, pode saltar para o fim do texto.

[spoiler]

No capítulo final da saga Three, encontramos o quarteto espalhado pelo universo. Reed Richards está do outro lado da galáxia, tentando salvar os habitantes do Nu-world (uma cópia artificial da Terra, habitada por refugiados do futuro) da ira de Galactus, o devorador de mundos. Susan Storm, a Mulher Invisível, está tentando negociar a paz entre três raças alienígenas submarinas e o reino da Atlântida. Ben Grimm (o Coisa, temporariamente sem poderes) e Johnny Storm (o Tocha-Humana) estão no Edifício Baxter, com Franklin e Valeria Richards e as crianças da Fundação Futuro, tentando segurar a segunda onda de aniquilação (o exército de monstros insetóides, liderados pelo vilão Annihilus), que tenta invadir a Terra através do portal da zona negativa.

Todos os três conflitos parecem se resolver facilmente. Mesmo a invasão ao Edifício Baxter é repelida com facilidade, graças aos poderes do jovem Franklin. Mas é aí que o grupo percebe que os invasores eram apenas batedores, que um exército de incontáveis monstros se aproxima, e que o portal só pode ser fechado pelo outro lado.

Quando Ben Grimm resolve se sacrificar, é surpreendido por Johnny, que joga o amigo pelo portal e se tranca na zona negativa. A despedida dos dois é tocante: o desespero de Ben é o bastante para reverter o efeito da fórmula que o torna humano, e ele reverte à forma de Coisa, enquanto soca o campo de força que sela o portal, tentando voltar. Sozinho, o Tocha-Humana confronta o exército que se aproxima, formando uma enorme nuvem negra: “Então é isso. Um bilhão contra um… Vocês pensam que eu tenho medo disso?” Cercado pela horda de monstros, ele exclama suas últimas palavras: “Em chamas!”

Confesso que fui pego um pouco de surpresa com a escolha do autor em sacrificar o Tocha-Humana (digo, surpreso quando li a manchete no site da Globo, que estragou a surpresa horas antes de eu poder ler a edição). Em parte, já desconfiava dessa possibilidade, pois solicitações das edições futuras já haviam adiantado que o Coisa sobreviveria (para aparecer em edições dos Vingadores), e que o Homem-Aranha seria bastante afetado pelo ocorrido (o que era uma grande pista de que seria Johnny, amigo do Aranha, a ir dessa para melhor).

Dos quatro, Johnny seja talvez o personagem que faça menos falta. Sua função no quarteto sempre foi a de proporcionar um personagem “adolescente” com quem os leitores jovens pudessem se identificar, o que resultou em empecilho ao seu amadurecimento. Johnny sempre foi o garotão da equipe, mulherengo e irresponsável. De todos os integrantes, o que tinha menos pathos, pra usar um termo chique. O jovem Franklin Richards pode assumir sem problemas o papel de personagem infantil e encrenqueiro do grupo, agora.

A mídia especializada já adiantou que a revista do quarteto será substituída por um novo título, do qual só temos a sigla, por enquanto: “FF”. Embora seja a mesma sigla de “Fantastic Four”, leitores têm arriscado que a revista se chamará “Fantastic Force” ou, mais provavelmente, “Fantastic Family”. [/spoiler]

No fim das contas, o que torna “Fantastic Four #587” uma edição tão especial é a qualidade do trabalho do autor Jonathan Hickman e, especialmente, do artista Steve Empting. Essa é provavelmente uma das revistas mais bem ilustradas que li nos últimos meses, talvez até nos últimos anos! E se a morte de um herói é hoje um clichê, nem por isso deixa de ser uma fonte possível para boas histórias. Existe algo de tocante e extremamente poderoso nas mortes heróicas da ficção, seja com Mel Gibson gritando “Liberdaaaade!” em “Coração Valente”, como Gandalf murmurando “Corram, seus tolos!”, enquanto cai nos abismos de Moria, ou mesmo em Bruce Willis salvando o rabo de Ben Affleck naquele filme pavoroso de Michael Bay.

Antes de sair por aí reclamando “que se dane, vai ressuscitar daqui a um mês, mesmo”, como cerca de sete milhões e meio de leitores de Internet já postaram em comentários por aí, leia a revista. É uma ótima leitura, e se forem mesmo ressuscitar o personagem logo, tenho certeza de que Hickman e Empting o farão em outra história de tirar o fôlego.


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