Quando escrevi a crítica da última edição da revista dos Vingadores, pensei seriamente que os roteiros de Brian Bendis não podiam piorar. “Avengers #10” provou que eu errei feio.
E o pior é que Bendis vem enrolando fãs e colegas há anos, convencendo-os de que parecer “cool” é mais importante que ter algum conteúdo ou mesmo uma história que faça o mínimo de sentido. Avengers #10 parece “cool”. Quem não gostaria de ver Namor, Thor e o Hulk (tudo bem que é o Hulk vermelho, não o verde) enfrentando um monstro marinho nas profundezas do oceano?
O problema é que Bendis, embora consiga fazer personagens soarem como pessoas comuns, é completamente incapaz de escrever os diálogos daqueles personagens que não são pessoas comuns. E no gênero dos super-heróis essa é uma falha fatal. Quando Bendis tem de escrever as falas de gênios como Reed Richards, Tony Stark ou Charles Xavier, ou mesmo quando ele precisa escrever personagens de fala “nobre”, como Thor ou Namor, o resultado parece saído de um fanfic escrito por um garoto de 10 anos que vai mal na escola.
Vejam só um exemplo: enquanto Namor mergulha na fossa submarina para recuperar uma das jóias do infinito, ele descreve o ambiente como “um lugar em que as águas estão tão pressurizadas que não há diferença entre elas e rocha sólida”. Sabe quando é que a água se assemelha a rocha sólida? É um fenômeno ”raríssimo” na natureza, chamado gelo. E a coisa curiosa sobre o gelo é que ele é menos denso que a água, e por isso bóia. Não há gelo no fundo do oceano, pois a pressão tem justamente o efeito de impedir que a água atinja o estado sólido. E não é preciso ser um físico, nem ler 20.000 léguas submarinas, nem sequer acessar a página da Wikipédia sobre o tema. Bastava já ter notado que cubos de gelo flutuam em copos d’água e usar dois neurônios…
Se isso não fosse o bastante para arruinar a suspensão de descrença e impedir o leitor de apreciar a revista, Bendis demonstra que não apenas não tem amor pelas leis da natureza, como também não saca nada de geografia, colocando a Área 51 (nome dado a uma base militar do deserto de Nevada) em Roswell, Novo México (confundindo dois estados americanos que nem fazem fronteira um com o outro), como se todas as histórias sobre alienígenas fossem uma só.
E Bendis ainda desrespeita uma das leis básicas dos quadrinhos: a da continuidade. Uma coisa é estar por fora dos acontecimentos que afetaram alguns dos personagens envolvidos, ainda mais quando se lida com um elenco de dúzias, juntando diversas equipes dos Vingadores com os X-Men e o Quarteto Fantástico. Outra é citar os próprios acontecimentos, para em seguida desconsiderá-los por pura preguiça de adaptar a história à continuidade atual.
Exemplo: Bendis mostra a Sala de Perigo dos X-Men destruída (de acordo com o ocorrido quando o título da equipe era escrito por Joss Whedon), mas em seguida mostra a sala funcionando (o que vai contra o estabelecido nos últimos 5 anos de revistas mutantes). Em outra ocasião, ele menciona que Tony Stark está falido (de acordo com a continuidade do título do Homem de Ferro), mas ao mesmo tempo diz que Tony comprou a Área 51. Bem, a boa notícia é que a essa altura da edição, minha testa já estava dessensibilizada, de tanto dar cabeçadas na parede.
Em uma semana marcada pela notícia chocante da morte de Dwayne McDuffie, competente autor de quadrinhos famoso pelo seu trabalho em animações como Ben-10, Static Shock (mais conhecido aqui como “Super Choque”) e o recém lançado All-Star Superman (adaptação da série homônima de Grant Morrison), é triste perceber que caras como Bendis não apenas são pagos para escrever fanfics ruins, como ainda por cima batem recordes de vendas com essas porcarias.
Perdi até a vontade de escrever a crítica de outros títulos da semana, como o ótimo “Amazing Spider-Man #655” ou o surpreendentemente agradável “X-Men Legacy #245”. Ou vai ver as cabeçadas na parede me causaram danos neurológicos e eu não consigo continuar a escrever. Se for esse o caso, talvez eu até goste da próxima edição de Avengers…