Nossa avaliação
Olhando para as revistas lançadas nas comic shops americanas na última semana, fica fácil perceber que o saldo é bem positivo. Nem tanto pela alta qualidade dos títulos, mas pela ausência de quaisquer “atentados” ao gosto do leitor. Os destaques são:
- “Green Lantern #65” traz a parte quatro da “Guerra dos Lanternas Verdes”, e é uma leitura bem diferente da edição anterior. Saem os longos textos expositivos e entra uma boa caracterização dos protagonistas Hal Jordan e Guy Gardner através da ação e dos diálogos. A “reviravolta” do final – com os quatro humanos obrigados a recorrer a anéis de poder de outras cores para enfrentar a corrupção da tropa dos Lanternas Verdes – era previsível, mas acontece de um modo lógico e com uma boa dose de humor auto-depreciativo (“não quero acabar numa tanguinha de cristal. Rosa não é a minha cor.”).
- É bacana que a saga da guerra dos Lanternas consiga manter um ritmo frenético, com duas edições lançadas na mesma semana. Mas é uma pena que “Green Lantern Corps #59” deixe a peteca cair. Não só pela arte de Tyler Kirkham, que não se compara ao desenhista de GL, mas também pelo roteiro: com a narração de John Stewart, voltam as longas caixas de texto com teor piegas e melodramático, pra não dizer repetitivo. Para tornar tudo pior, vem a péssima escolha de design do traje “índigo” de Stewart. Usando o anel da “compaixão”, John adota uma versão lilás do seu traje de fuzileiro, com um cajado em forma de metralhadora e uma bandana com o símbolo da Tribo Índigo. Dá pra notar que os autores acharam que colocar um afro-americano em um dos trajes tribais típicos dos membros da Tribo seria mal interpretado, mas a solução encontrada foi muito, muito ridícula.
- “X-Factor 217” mostra porque, às vezes, títulos discretos estrelando personagens de “importância” menor têm o potencial de serem mais emocionalmente engajantes que os carros-chefe da editora. Todo mundo sabe que o Homem-Aranha não corre risco de vida nem contra o mais cruel dos vilões, simplesmente porque a Marvel não perderia um dos seus maiores filões (a não ser se fosse uma jogada de marketing, é claro), mas caras como Shatterstar, o Homem-Múltiplo e o Fortão não estão assim tão “a salvo”. Some-se isso ao fato de o roteirista Peter David estar cuidando de X-Factor há anos, e o resultado é uma boa novela em que tudo pode acontecer: personagens se apaixonam, engravidam, saem do armário, perdem o bebê, morrem ou voltam do futuro anos mais velhos, sem aquela certeza de que tudo vai voltar logo ao normal, como nos grandes títulos. Pelo contrário, a edição da semana termina com um daqueles momentos em que o leitor mais cortês pensa “nada mais será o mesmo”. Já o leitor mais desbocado, pensa “putz, fudeu”.
- “Lab Rat #1” é um caso bastante interessante: a melhor revista da semana não é uma HQ lançada nas comic shops, mas sim um conteúdo bônus do jogo Portal 2. De todo modo, é uma história em quadrinhos, e como foi lançada na semana passada, “tá valendo”, por assim dizer. A HQ narra a estória do “homem rato”, o funcionário da Aperture Science que sobreviveu por meses (anos?) escondido no laboratório após a malignamente insana I.A. GLaDOS assumir o controle da instalação e usar gás venenoso para matar todos os cientistas (e que conhecíamos apenas pelos rastros deixados no cenário do jogo, como as pichações meméticas “the cake is a lie”). “Lab Rat” não apenas cumpre o papel de fazer uma ponte entre as tramas dos dois jogos, como também tampa alguns buracos da trama e adiciona uma camada de dramaticidade ausente em ambos os games. É bem provável que o quadrinho final arranque pelo menos uma lágrima e um sorriso de qualquer um que tenha jogado o primeiro jogo. A arte é maravilhosa, e os diálogos sofrem com uma certa pieguice em alguns momentos, mas a acidez das falas de GLaDOS é a mesma dos jogos: “Se qualquer empregado da Aperture Science quiser desistir deste novo programa de testes voluntários, por favor lembre-se de que ciência rima com aderência. Sabe o que não rima com aderência? Neurotoxina.”