Era uma vez em Hollywood


Nossa avaliação

Depois de oito anos acompanhando Vincent Chase e sua turma, “Entourage” chegou ao fim. A série da HBO sobre os bastidores de Hollywood ganhou fãs por mostrar um pouco da trajetória de um astro de cinema e as formas como negócios são feitos e desfeitos na capital do cinema.

Vimos Vince transformar-se de um ator revelação em grande sensação com um sucesso de bilheteria, até chegar à inevitável queda como resultado de um ego nas alturas misturado aos abusos cometidos por alguém que pode ter tudo o que quiser. Mas o que fez de “Entourage” algo tão especial foi nos mostrar este ator hollywoodiano a partir dos seus amigos, que acabaram se revelando muito mais interessantes do que o personagem principal.

Eric, Turtle e o irmão de Vince, Johnny Drama, foram as figuras carismáticas que muitas vezes seguraram os episódios, impedindo que a série caísse na mesmice depois da novidade inicial. Por mais estranho que possa parecer, a vida de um astro de Hollywood é tão emocionante que pode ficar tediosa: em um primeiro momento, achamos o máximo as festas, as pessoas famosas, a riqueza. Mas depois vira tudo mais do mesmo , com um ator famoso perdido e sem identidade neste mundo de aparências. Sua entourage é que permite a nossa identificação com a história mostrada, servindo como os olhos do público e trazendo um pouco de humanidade para um universo tão distante para a maioria das pessoas.

A ideia da série surgiu com seu produtor Mark Wahlberg. Inicialmente pensou-se em fazer uma espécie de documentário acompanhando Wahlberg e seus amigos, mas o ator, juntamente com o criador da série Doug Ellin, acharam melhor produzir um programa ficcional. Usando as experiências do próprio Wahlberg como revelação pós-“Boogie Nights” para o início da história, “Entourage” também se inspirou no sucesso de Leonardo DiCaprio (e grande amigo de Wahlberg) com “Titanic” para contar a popularidade de Vince com o “Aquaman” de James Cameron. Se o personagem principal era uma mistura dos dois amigos e mais outros atores (o nome Vincent é por causa de Vince Vaughn, por exemplo), seus companheiros de cena também tinham inspiração na realidade.

O certinho Eric Murphy, interpretado por Kevin Connolly, é baseado em Eric Weinstein, amigo de Wahlberg e produtor executivo da série. Salvatore (Jerry Ferrara), mais conhecido como Turtle, foi inspirado em outro amigo de Wahlberg, um faz-tudo chamado Donnie Carrol. Já o inconveniente, trágico e engraçadíssimo Johnny Drama (Kevin Dillon) tem suas origens em Johnny Drama Alves, primo de Wahlberg que foi contratado por Donnie (irmão de Mark) para deixar o ator longe de confusões.

Ari Goldman (o sensacional Jeremy Piven) é uma mistura de diversos agentes de Hollywood, mas foi fortemente inspirado em Ari Emanuel, agente de Wahlberg. Além das inspirações, a série teve também várias personalidades fazendo o papel delas mesmas como Matt Damon, Tom Brady, Scarlett Johansson, Martin Scorsese, Gary Busey, Bob Saget, James Cameron, Jessica Alba, Christina Aguilera, 50 Cent, Eminem, Sasha Grey (que ganhou destaque na sétima temporada como a namorada de Vince), Mike Tyson, Stan Lee, Aaron Sorkin e Zac Efron.

“Entourage” teve brilhantes primeiras temporadas, em que se destacaram alguns momentos maravilhosos, como Johnny Drama no programa de Jimmy Kimmel, James Cameron convidando Vince para fazer “Aquaman”, Vince olhando para o cartaz de “Titanic”, o telefonema de Martin Scorsese e a “despedida” de Ari e Vince no aeroporto.

Mas a série chegou ao oitavo ano já quase agonizante, sem ter muito mais o que contar. Afinal, para onde caminhar com um personagem tão jovem? Já conhecíamos o Vince ingênuo que aos poucos aprendia a lidar com as engrenagens da indústria do cinema, o Vince no auge da popularidade como “Aquaman”, o Vince com o ego gigantesco que vai levar ao grande fracasso de “Medellin”  e o Vince que abusa do álcool e das drogas até chegar ao fundo do poço. Só restava a aguardada volta por cima, que veio na oitava temporada.

Durante todos estes anos, Adrian Grenier deu ao personagem a mistura bem equilibrada de amigo atencioso e homem que sabe que é especial, melhor do que os outros. Os dois pólos se alternavam conforme as situações dramáticas em que Vince se envolvia, e o fato de já esperarmos determinada reação sua frente a alguns acontecimentos é uma prova do bom desenvolvimento do personagem e do talento de Grenier em torná-lo convincente.

A última temporada deixou o cinema de lado e se concentrou em redimir Vince, especialmente após a imagem de antipático que ficou do sétimo ano. Após sair da reabilitação, o astro apareceu mudado, mais paciente, menos impulsivo e carinhoso com os amigos. Todo o último ano foi em clima de despedida, o que fez com que a série apresentasse uma solução corrida para vários dramas em aberto (como o relacionamento entre Eric e Sloan, o empreendedorismo de Turtle e o programa de tv de Johnny).

O último capítulo teve cara de novela, com Vince indo se casar, Eric se reencontrando com a ex-namorada grávida e Ari fazendo as pazes com a esposa. Foi um episódio focado em Vince (como não poderia deixar de ser), mas que tentou mostrar a força da amizade entre aquele grupo de homens(que é o que foi o tema de toda a série, na verdade) . A cena final, com a surpresa de Vince para Eric ao som de “Going to California” do Led Zeppelin, foi emocionante, e quando os dois aviões decolaram juntos no aeroporto, bateu uma tristeza por nos darmos conta de que não encontraremos aquela turma novamente…

…Ou será que encontraremos? Mark Wahlberg já declarou que pretende continuar a série no cinema, e a cena com Ari após os créditos do último episódio mostra que “Entourage” ainda tem muita história para contar.


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