Um Método Perigoso


Nossa avaliação

[xrr rating=3/5]

Para Sigmund Freud, a figura do pai sempre foi de uma importância ímpar no inconsciente humano. Buscando compreendê-la, ele elaborou três mitos em que, não por acaso, ocorre o parricídio: Édipo, Totem e tabu e Moisés. O pai é o pai-morto, e o assassinato simbólico da figura paterna surge como processo básico de amadurecimento, apesar da figura do pai ausente continuar de forma influente na vida das pessoas.

O assassinato simbólico do pai é o tema central de “Um Método Perigoso”, e é uma pena que o diretor David Cronemberg opte por dar mais atenção à relação Jung-Sabina ao invés de Freud-Jung. A história – real – acompanha Carl Jung (Fassbender), que procura colocar em prática a teoria da “cura pela fala” elaborada por Freud (Mortensen) em uma paciente russa, Sabina Spielrein (Knightley). Desenvolve-se a partir daí um triângulo que não apenas colocará Jung e Freud frente a frente, como transformará Sabina em amante do primeiro.

E a figura do pai está por toda a parte: o trauma de infância de Sabina está diretamente relacionado à violência do pai e, para superá-lo, ela parece substituir a figura paterna por Jung que, por sua vez, encontra em Freud o pai intelectual que irá guiá-lo. Mas tudo fica mais interessante quando o pai precisa ser “assassinado” para o crescimento do filho e, assim, a autoridade de Jung será desafiada por Sabina ao mesmo tempo em que a autoridade de Freud será desafiada por Jung. É o pai repressor que precisa ser destruído para que o filho atinja seu potencial: e é importante, neste sentido, a figura do médico/paciente Otto Gross (Cassel), que já tendo superado sua própria figura paterna, entrega-se aos mais variados instintos sem culpa.

Dr. Freud, o senhor está querendo medir a autoridade pelo tamanho do charuto?

A história é interessante, a dinâmica entre os personagens é boa, mas o excesso de diálogos (resquício de uma das fontes do filme, a peça “The Talking Cure”) enfraquece a trama, que apresenta poucas soluções visuais interessantes (como Jung oprimindo Sabrina através de seus reflexos nos espelhos) e abusa da exposição da história tanto pela conversa entre os personagens como pelas infinitas cartas que passam a ser mostradas a partir da metade da projeção.

Além disso, a relação pai-Freud com o filho-Jung é de longe mais interessante do que a relação pai-Jung e filha-Sabina, e é impressionante como o filme ganha nos momentos em que Freud e Jung estão juntos, na mesma medida em que perde quando se concentra em Sabina. Michael Fassbender faz um Jung perfeito em sua mistura de seriedade, hipocrisia, respeito e arrogância, mas é Viggo Mortensen o grande destaque como Freud em uma interpretação contida, exalando inteligência e autoridade sem fazer esforço. Já Keira Knightley é o destaque negativo, com um overacting que beira o ridículo, exagerando bastante na histeria de Sabina: é o papel mais difícil do longa, e que dependia da atriz para tornar convincente a transformação da personagem, que deveria mudar de forma sutil ao longo da história. O resultado é que ela grita “atuação” em todos os frames, tirando a imersão do espectador na trama.

Extremamente irregular, “Um Método Perigoso” é mais uma história interessante do que um bom filme. Vale mais pelos personagens e sua importância na recente história humana do que como uma boa diversão no cinema. Mas apesar dos pesares, compensa uma conferida única e exclusivamente pelas cenas em que Mortensen e Fassbender travam um combate de atuações digno do enfrentamento entre Freud e Jung no campo da psicanálise. Nestes momentos, “Um Método Perigoso” nos dá uma breve visão do grande filme que poderia ter sido.


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